BICICLETAS ROUBADAS

CASO NÚMERO 9/9

Cansado de ter tantas bicicletas jovens, digo, novas, roubadas de mim, decidi passar na feira "livre" e com apenas R$ 40,00 comprei Elza... ela tinha bucho nos pneus, buracos na sela, ferrugem nas engrenagens e sua pintura já estava toda descamada. Mas era brava, ia e vinha comigo para qualquer ponto da cidade sem dar o prego. Elza já estava meio passada é verdade, mas ainda dava um bom caldo.

Nunca a vi ser desejada, ao contrário, faziam galhofa de mim por estar andando com tão idosa senhora bicicleta. Mas sempre desconfiava... Sabe como é... “quem desdenha pode estar querendo roubar”. Sei não...

Pois me bastou apenas um único descuido. Esqueci-a mesmo presa por algumas horas detrás da velha Igreja. Quando me lembrei de minha Elza, corri até quase pôr os bofes pra fora, mas já era tarde. Só estava lá o lugar onde a deixei.

Incrédulo, consegui caminhar ainda com passos torpes em direção a praça mais próxima, e ao chegar, logo avistei a pobre velha Elza, jogada na sarjeta. Com as rodas empenadas e corrente quebrada, ela parecia dar seus últimos suspiros ali completamente abandonada.

Imaginei que minha fiel companheira, não tivesse se deixado levar por outro que não fosse eu, sem antes lutar. Tinha preferido a ruína a se entregar a outro que não fosse O SEU DONO.

Tomado de emoção, tomei Elza em meus braços e a levei para casa, para que pudesse descasar em paz, agora sob minha inteira proteção e cuidados.

Hoje ainda, o quadro metálico de Elza jaz, pendurado lá no quintal.