A Dívida*
#Memorial Recantista# [40] Eliza Freire de Brito Pontes#
Prólogo:
Florípedes, linda moça cobiçada pelos partidos da região, estava prestes de se casar. O futuro marido – Ricardo era esse o seu nome – era o sinônimo de incontidas alegrias. O casamento com a filha do bravo e perigoso Fulgêncio tinha que ser comemorado com muitas pompas. O velho pai não dava moleza para nenhum Gavião ficar arrastando as asas para a sua filha. A batalha fora dura, penosa, mas o amor saiu vencedor da porfia.
Enfim, era chegado o dia. Florípedes – a mais linda moça de todas das redondezas – se casaria no próximo final de semana. O Fulgêncio – pai que tinha a fama de mau – era só sorrisos. Mas – mesmo contendo a felicidade – ele havia advertido o genro: -Olha, eu quero um casamento na Igreja e no Cartório! Faço questão que tudo seja nos trinques. Se não for assim, não tem casamento! Não quero preocupação nenhuma! – falou com ameaçada voz ao genro! Condições aceitas pelo noivo e os preparativos continuaram.
Parte I:
O tempo passa. Amanhece o atribulado dia cuja tribulação só terminaria com o Sim (Ou Não!) a ser dado na cerimônia nupcial. O Sim é dado! Casamento realizado. Nubentes doidinhos para o “enfim sós”, ou seja, que os convidados intrusos sumissem do mapa, para que tivessem a “Noite do Rala e Rola”!
Após ligarem os desconfiômetros, os últimos intrusos – para alívio do casal afoito – vão embora! Ricardo toma a esposa nos braços, leva-a até a cama, beija-a com profundo ardor, enquanto diz baixinho e entre risos à amada:
-Ufa! Pensei que esse pessoal não iria desconfiar nunca!
-Povinho chato, não é meu amor? – responde Florípedes ao amado!
As roupas jazem atiradas ao chão. Elas, agora, não tinham mais nenhuma serventia. Era ‘um e outro’, ‘outra e um’ num monolítico bloco fundido pelo amor sob as bênçãos de Eros! Embriagados pelo néctar de Baco, os beijos e carícias faziam luzir pirilampos a voltearem pelos ares. Florípedes fecha os olhos, os ouvidos se aguçam. Ela ouve o canto das cotovias onde só existiam sabiás. Os pelos estão ouriçados. A língua do Ricardo passeia célere por cada centímetro da sua ouriçada pele. Em dado momento, Ricardo diz: -Vire-se de bruços! – pedi-lhe!
Obediente e pronta para se entregar, ela obedece! Ávido, Ricardo começa a lhe mordiscar as orelhas, enquanto beijava os seus ouvidos. A áspera barba provoca arrepios ao roçar o desnudo pescoço: ela geme de prazer. Ricardo vai deslizando sua língua pelo lindo corpo da esposa amada, até chegar às dunas que tremulavam. Beijos são dados nas arrepiadas dunas. Os pelos tremulam pelos ventos oriundos das narinas do sôfrego marido/amante. Então, algo inesperado acontece: o falo roça separando as dunas. Florípedes sente um misto de prazer incontido. A cabeça do falo encosta na entrada da caverna que piscava, como as luzes dos vadios pirilampos que voejavam nas suas elucubrações. Aos poucos, ela sente que o falo não fala e nem pede licença. Com carinho, ele lentamente vai penetrando na caverna. Os movimentos se tornam arrítmicos. Os desejos se tornam incontidos. O falo pulsa, ambos gemem. Um líquido morno inunda todo o interior da caverna. Satisfeitos – e sob cuidados de Morfeu – se quedam em sono profundo.
Parte II:
O tempo passa célere. As cenas se repetem em todas as noites, ou mesmo durante o dia! Florípedes estranhava tudo aquilo porque – mesmo estando a três meses sendo casada – continuava sendo virgem. Resolve, então, relatar tudo à sua mãe:
-Mamãe, estou arrasada. Estou virgem até ...
-O quê? O Ricardo é gay? – indaga desconfiada a austera mãe!
-Não, mamãe! Não é nada disso! Acontece que todas as noites e mesmo durante os dias! (...) A filha relata – nos mínimos detalhes – todo o desenrolar do seu problema sem, todavia, dizer que gostava.
Atônita, a mãe ouve todo o relato boquiaberta. Decidida, ela toma a decisão de contar todo aquele absurdo para o bravo marido. Florípedes de despede e vai embora.
Epílogo:
À noite chega trazendo no seu bojo a figura do valentão Fulgêncio. Depois do jantar ele nota que existe algo de estranho no ar!
-O que houve para você estar com esta cara de quem comeu e não gostou? – indaga!
-É o seu genro que (...)
-O que tem o meu genro? Ele tá maltratando a nossa filha? – pergunta!
-Não, homem de Deus! É que a nossa filha ainda é virgem até hoje e (...)
-O Ricardo é gay? – indaga interrompendo novamente a fala da esposa!
-Não, não! Não é nada disso, homem! É que ele – até hoje – só está indo “do lado errado da nossa filha”. Nunca, sequer, tocou na perseguida dela! Quero que você vá até a casa dele, para tirar satisfação e saber porque ele está agindo desse jeito com a nossa menina? Se for o caso, dê uma surra naquele moleque e o mate, para ele aprenda a não ser tão abusado e sem vergonha.
Com os olhos rútilos e lábios trêmulos, Fulgêncio ouve o relato da esposa e decide. -Vou afiar meu facão bem afiado. Quero ele cortando asa de mosquito em voo! Amanhã vou até lá para acertar as contas com esse desaforado! – dissera rilhando os dentes! -É isso, aí, meu velho! Mostra para aquele moleque como é que os machos fazem! – dissera entre sádicos risos a vitoriosa mãe antevendo a morte do genro!
O dia mal amanhecia e o Fulgêncio já estava de pé. Na mão, o bem afiado facão tremulava. Queria chegar bem cedo na casa do desaforado genro e, para lá se dirige! Em lá chegando, enfia o pé na porta arrebentando a fechadura. Cego pelo ódio, ele adentra o recinto com o facão em riste.
-Seu desgraçado! O que você está fazendo com a minha filha, hem? Diga para mim, diga!
-O que o senhor quer saber? – indaga!
-Esse negócio da minha filha ser virgem, até hoje, e você só fazendo o trem (Ele era mineiro. Daí a presença do trem!) do lado errado! – responde irado!
-Senhor Fulgêncio, tudo isso é culpa do senhor (O Fulgêncio arregala os olhos) ao exigir que o casamento fosse realizado no Religioso (O velho ouve pensativo o relato.) e no Civil, está se lembrando? – explica o Ricardo!
-E tem esse... trem doido, tem? – indaga!
-Tem, sim, senhor Fulgêncio! Não tem nada de errado não. Está na lei.
Cabisbaixo, Fulgêncio recoloca o facão na cintura se retirando. Agora ele chega em casa trazendo um rosto enigmático. A esposa indaga:
-E aí meu velho? Você matou o desgraçado, matou? – ávida pergunta!
-Matei não, mulher! Agora eu descobri tudo!
-Tudo o que homem de Deus? – pergunta sem a nada entender!
-Descobri que você está é me devendo trinta e cinco anos de (¢#) sua FDP!
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Imagem: Google