"O Rugby, o Mundo e a Geopolítica de uma Bola Oval"

 

Quem diria que um jogo de rugby poderia ser um dos maiores palcos diplomáticos do mundo? Sim, aquela bola oval, que parece ter sido projetada por um estagiário que misturou futebol americano com algum sonho maluco de esporte medieval, agora é símbolo de dominação geopolítica.

 

A Copa do Mundo de Rugby 2023 traz os gigantes do esporte – Nova Zelândia, África do Sul e França – em um espetáculo que vai além dos tackles brutais e corridas explosivas. A cada ensaio (para os que não conhecem o rugby: ensaio é o gol do rugby, só que com mais socos), o mundo observa algo muito mais sutil: as intrigas políticas, culturais e até ambientais que envolvem o esporte.

 

Vamos começar com um dado que nos deixa perplexos: a Nova Zelândia, uma nação com mais ovelhas do que pessoas, é uma das maiores potências do rugby. Parece que os All Blacks – como são carinhosamente chamados – aprenderam algo com seus companheiros ovinos: correr incansavelmente. Como se explica o fato de um país tão pequeno dominar o esporte? Segundo a Dr. Emily Rutherford, especialista em sociologia do esporte da Universidade de Otago, “o rugby na Nova Zelândia é mais que um esporte, é uma questão de identidade nacional. A vitória dos All Blacks no campo representa a persistência de uma nação pequena, mas resiliente.” Um tanto épico, não?

 

Agora, vamos falar de um país onde rugby se mistura com história, política e, de certo modo, redenção: África do Sul. Desde os tempos do apartheid, quando o rugby era visto como o esporte da elite branca, até a vitória monumental na Copa do Mundo de 1995, sob a bênção de Nelson Mandela, o rugby foi um caminho para a reconciliação nacional. E como não se emocionar ao lembrar de Mandela, vestido com a camisa verde e dourada, entregando a taça ao capitão François Pienaar? De fato, essa imagem transcendeu o esporte e se tornou um símbolo global de união. Segundo o historiador esportivo David Goldblatt, “O rugby serviu como um catalisador para a África do Sul emergir das trevas do apartheid, e a vitória de 1995 foi um verdadeiro ensaio (literal e figurado) para o novo país.”

 

E claro, não podemos esquecer a anfitriã da próxima Copa do Mundo, França, o país que tanto ama um croissant quanto uma boa briga esportiva. Paris é o epicentro da diplomacia, e o rugby francês, conhecido pela arte de transformar uma disputa física em uma coreografia – ou quase isso – reflete o espírito nacional: elegante, mas disposto a resolver conflitos com um leve empurrão. O embaixador esportivo francês Jean Dupont (sim, há sempre um Jean Dupont em qualquer narrativa francesa) brinca: “No rugby, assim como na política, nós franceses acreditamos na beleza da estratégia e no poder da finesse, mesmo que às vezes acabe em caos.”

 

Agora, a cereja do bolo – ou seria do croissant? O clima. Enquanto o aquecimento global aquece o planeta (perdão pelo trocadilho), os jogadores suam a camisa em estádios lotados e governos discutem soluções na COP28. Afinal, em um futuro não muito distante, se o mundo continuar a esquentar, talvez o rugby tenha que ser jogado em piscinas – a verdadeira fusão entre polo aquático e esporte de contato.

 

Segundo Dr. Philippe Lemoine, climatologista da Sorbonne, "a interação entre grandes eventos esportivos e a sustentabilidade global nunca foi tão relevante. Grandes eventos como a Copa do Mundo de Rugby expõem os desafios logísticos e ambientais que enfrentamos, desde o consumo de energia nos estádios até as emissões de carbono geradas pelas viagens de fãs e times."

 

Com tanto acontecendo dentro e fora dos campos, podemos garantir uma coisa: o rugby, esse jogo de força bruta e inteligência estratégica, é mais do que uma questão de pontos no placar. Ele reflete a geopolítica em cada passe, tackle e escaramuça, enquanto o mundo observa, entre risadas e gritos de torcida.

Graciliano Tolentino
Enviado por Graciliano Tolentino em 10/10/2024
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