Ditado popular cumprido ao pé da letra
Existem centenas de ditados populares. Todos têm uma explicação lógica e convincente. Eles sempre possuem um sentido figurado, uma metáfora. Nunca se consegue, nem se deve seguir à risca esses ditados, senão seria o caos.
Vamos dar como exemplo dois que me vieram à mente neste instante: “Se teus olhos pecam, arranque-os” e “Em briga de marido e mulher, não se mete a colher”.
Esses dois exemplos caem bem no que quero justificar. Já pensaram se, quando alguém pecasse, seus olhos fossem extirpados?
Os humanos seriam quase todos cegos e seria até mais fácil que nascêssemos cegos para não dar trabalho a quem tivesse a incumbência de arrancar nossos preciosos olhos.
No segundo exemplo, ficaria muito engraçado se quando alguém estivesse discutindo com a esposa ou o marido e o vizinho aparecesse com uma colher de aço inoxidável para se meter no meio deles.
Acontece que em toda regra há exceção e conheci duas pessoas que cumpriram à risca aquilo que falaram.
O primeiro caso foi o Possidôneo, uma figura “sui generis”. Vestia sempre a melhor fatiota: sapatos pretos, meias brancas, calças e paletós escuros e não esquecia nunca a gravata. Vivia dizendo, a quem se dispusesse ouvi-lo, que era dono de fazendas, carros, lojas e tudo o mais que lhe viesse à cabeça. Certo banco da cidade recebeu um novo gerente e Possidôneo foi se apresentar, dar as boas vindas ao jovem gerente vindo da capital. Possidôneo exagerou mais ainda nas suas propriedades, o que deixou o gerente com os olhos brilhando. Possidôneo disse que gostaria de depositar a sua fortuna naquele banco. O gerente pergunta se ele ia depositar em espécie ou vai transferir o dinheiro de outro banco.
Possidôneo apanhou uma maleta até então esquecida ao seu lado e respondeu:
- Eu trago comigo aqui nesta maleta.
O gerente mais que depressa chamou um segurança para que nada acontecesse ao novo correntista. Possidôneo abre a maleta e, estupefato, o gerente quase caiu de costas. A maleta estava cheia de mato. Possidôneo, vendo o gerente pálido a sua frente, explicou:
- “Dinheiro para mim é mato”!
O segundo caso é do Oneres. Hoje, Oneres é um sexagenário que dá palestras para tentar tirar os jovens do vício das drogas. No passado foi um viciado que experimentou de tudo: maconha, cocaína, LSD e outras “cositas más”.
Certo dia, conversando com ele, mostrou-me as marcas no corpo que as aplicações deixaram. Um inchaço chamou a atenção.
Era na testa e eu não me aguentei e perguntei como ele tinha conseguido aquilo?
Meu filho, esta foi a maior razão que me fez abandonar as drogas.
Um dia, sem espaço no corpo para injetar uma droga que havia ganhado de um “amigo”, me lembrei do ditado: “De graça, até injeção na testa”. Quase morri e hoje sou bem calmo como o meu próprio nome diz: de trás para frente, Sereno, vou levando a vida salvando jovens de caírem na sarjeta.
Aroldo Arão de Medeiros
28/05/2006