Eu votei e você?

Era um dia ensolarado e a cidade estava em clima de eleição. A fila na seção de votação se estendia, mas, no meio dela, havia um senhor de 98 anos, conhecido por todos como Seu Joaquim. Ele carregava uma bengala de madeira polida, que parecia tão antiga quanto ele mesmo. Seu Joaquim era uma figura icônica do bairro, sempre disposto a contar histórias de tempos passados e a compartilhar sua sabedoria.

Quando chegou a sua vez, ele se aproximou da mesa de votação com um sorriso orgulhoso. Afinal, aquele era um dia especial — mais uma oportunidade de exercer seu direito de cidadão. Mas, ao consultar a lista, a funcionária informou: “Desculpe, senhor, mas seu nome não está aqui.”

A expressão de Seu Joaquim mudou instantaneamente. O sorriso deu lugar a uma expressão de incredulidade. “Como assim, meu nome não está? Eu votei em todas as eleições desde que me lembro! Inclusive, já votei até no Brasil do Café com Leite!” A mulher, gentil mas firme, tentou explicar a situação, mas ele não estava disposto a ouvir.

“Isso é um absurdo! Eu passei por guerras, crises e até por uma epidemia de gripe espanhola! E agora não posso votar?!” Ele balançava a bengala, como se isso pudesse fazer o sistema de votação reconhecer sua importância. A fila ao redor começou a olhar, alguns riam, outros observavam a cena com simpatia.

“Seu Joaquim, talvez o senhor tenha se esquecido de regularizar seu título. Pode ser um erro. O que podemos fazer é verificar tudo isso.” A funcionária tentava manter a calma, mas o senhor não queria ouvir justificativas. A raiva se acumulava. “Erro? Isso é desrespeito! O Brasil já não é mais o que era!”

Enquanto isso, os eleitores que aguardavam começaram a torcer por Seu Joaquim. Alguém até sussurrou: “Se ele não puder votar, quem vai salvar a gente do tédio com suas histórias?” A multidão se uniu ao redor do velho sábio, criando uma espécie de comitê de apoio.

“Vamos, Seu Joaquim! O senhor é a voz da experiência! Não desista!” Uma senhora, que tinha seus próprios filhos votando pela primeira vez, até ofereceu para ajudá-lo a verificar a situação. E, aos poucos, a indignação foi se transformando em uma espécie de comédia, com o senhor gesticulando e explicando que, para ele, cada voto era uma conquista.

Finalmente, após uma série de telefonemas e verificações, foi descoberto que Seu Joaquim realmente tinha esquecido de regularizar seu título. A funcionária se desculpou sinceramente, e ele, já mais calmo, não pôde evitar um sorriso: “Está bem, mas eu ainda estou revoltado! O que vai ser do Brasil se nem os mais velhos conseguem votar?”

No final, Seu Joaquim conseguiu regularizar tudo e, com um sorriso triunfante, fez seu voto. Ele saiu da seção de votação como um herói, cercado por novos amigos que prometeram sempre ajudar os mais velhos a votar. E, enquanto caminhava para casa, ele já tinha uma nova história para contar: a de um dia em que quase não conseguiu exercer seu direito, mas, no fundo, mostrou que a luta pela democracia não tem idade.