Disco voador

Depois de muito pescar e nada pegar, resolvi descansar à beira da praia. Isso foi lá pelos anos 70. Quero esquecer o tamanho do susto e não consigo.

Naquela época estavam em voga, entre os crentes e descrentes, os papos sobre discos voadores e ETs. Eu também participava das pequenas rodas em volta de uma mesa onde a polêmica era discutida, bebendo cachaça ou conhaque. Uns acreditavam piamente na visita dos discos voadores. Outros não concordavam com essas ideias e até faziam chacotas dos “cabeças fracas”, como assim chamavam os que estavam convencidos da existência de seres extraterrestres. Eu pertencia ao time dos crédulos. Consultava revistas especializadas, embora elas aparecessem na minha cidade com semana e, às vezes, até meses de atraso.

Quando a Cely Campello, se não me engano, lançou a música Marcianita, me apaixonei pela deslumbrante (assim eu a desenhava na minha cabecinha apaixonada), moradora daquele mundo tão distante. Já os marcianitos ou marcianos eram figuras horrendas que só ouvir os nomes, já me causava pânico.

Numa noite de lua cheia havia ido pescar na lagoa. Cheguei ao entardecer. O luar apareceu timidamente e poucas estrelas piscavam no firmamento. Uma nuvem negra aos poucos cobria o céu e tornava a noite um breu. Pouco se avistava adiante do nariz. Após a pescaria infrutífera sentei na areia para descansar. Foi quando vi na minha frente um raio de luz vindo do céu na minha direção. Os pelos de todo o corpo se arrepiaram. O medo foi batendo cada vez mais forte à medida que o disco radiante chegava perto de mim. Não podia acreditar no que meus olhos contemplavam, assustados. Enxergava luzes brilhantes que se acendiam e se apagavam. Comecei a ouvir conversas confusas. O medo era excessivo e eu não conseguia me levantar para fugir. Minha primeira atitude foi procurar algo para me esconder. Quase ergui minhas mãos aos céus quando vislumbrei atrás de mim uma canoa emborcada e eu cabia embaixo dela sem levantar suspeita aos marcianos.

Joguei-me com tudo para o meu refúgio e fiquei a espreitar os verdolengos se aproximando. Na minha cabeça transtornada pelo temor, suspeitei que a nave pudesse levar a mim e à canoa, mesmo emborcada como se encontrava.

Tremia mais que esquimó pelado ao relento e tentava rezar, mas não conseguia terminar as orações. Foi somente quando eles estavam bem perto eu consegui visualizar os extraterrestres: dois sujeitos que haviam voltado da pescaria com um liquinho aceso.

A luz do objeto que os ajudara na pescaria iluminava em direção ao céu, formava um clarão nas nuvens e, com o movimento dos andantes, acendia, apagava, tremulava e causava todo o tipo de imagens que a mente medrosa quisesse ver.

Na época, não contei para ninguém.

Hoje o meu cunhado sabe. Ele era um dos pescadores e muito a gente já riu e ainda ri ao lembrarmos do ET que me assustou e que preenchia nossos sonhos de jovens ingênuos de cidades do interior.

Aroldo Arão de Medeiros

04/03/2007

AROLDO A MEDEIROS
Enviado por AROLDO A MEDEIROS em 08/10/2024
Código do texto: T8168601
Classificação de conteúdo: seguro