As Mentiras que não Contei
Há tantas mentiras que não contei. Algumas, pequenas, despretensiosas, nascidas num segundo de hesitação. Outras, enormes, capazes de alterar rumos, moldar destinos. São mentiras que escolhi calar, não por falta de oportunidade, mas por medo de perder algo maior: a verdade que eu ainda tentava encontrar em mim mesma.
Menti quando disse que estava bem, quando o caos se alastrava dentro de mim. Aquela frase automática, um "tudo bem" que saía rápido, sem reflexão, como um escudo contra perguntas profundas demais. Não era uma mentira contada aos outros, era uma mentira que eu repetia a mim mesma. Talvez, se eu dissesse o suficiente, passasse a acreditar.
Não contei as mentiras que poderiam ter me salvado de situações desconfortáveis, preferindo o silêncio. Preferindo encarar a dor do que enfrentar a culpa. Porque, no fundo, a verdade me parecia um fardo, mas a mentira um labirinto sem saída.
E aquelas mentiras que poupei para proteger? Há quem diga que há amor nas mentiras não contadas. Mas eu sempre tive receio desse tipo de amor, um amor camuflado, disfarçado. Calei verdades por medo de machucar, mas será que ao não mentir também não feri de outra forma?
Agora, quando penso nas mentiras que não contei, vejo que elas moldaram minha história tanto quanto as verdades. São as escolhas não ditas que nos definem. Fica sempre um gosto de dúvida: e se tivesse falado? Se tivesse inventado outro desfecho? Quem seria eu hoje? Só me resta seguir, carregando as verdades e as mentiras. Algumas contadas, outras guardadas, outras esquecidas…
Lin Quintino