Deitado sem fazer nada
Estava eu descansando após o almoço, diriam que eu estava tirando uma sesta. Eu contrariaria dizendo que era uma terça-feira.
E, por falta de coisa melhor a fazer, resolvi descrever o que vislumbrava à minha volta.
Olho para fora do quarto e vejo uma quantidade enorme de filhotinhos de morcegos brancos. Calma pessoal! Não cheirei cocaína, não tomei chá de cogumelo e nem ácido lisérgico (LSD). Foi minha imaginação que comparou grampos de roupas no varal com esses sugadores do sangue alheio.
Entre mim e o lençol da cama em que estou deitado estão folhas impressas que não trazem impressões de suas vidas. No outro lado desses pedaços de papel coloco impressões captadas do quarto deste pobre desamparado.
A estante com troféus e livros traz à memória passagens da vida com meus filhos, quando ainda adolescentes, craques do futebol de salão. Hoje não tenho assistido aos jogos de futsal, porque sinto falta dos elogios aos meus pimpolhos atletas.
No móvel com prateleiras, há de tudo. No Armazém de Ana Carolina tem rodo, barbante, farinha, pedras-pomes. Tem esmalte vermelho. Tem prendedô, passadô e escorredô. E até couro para pandeiro. No meu armazém, tem até, em sua caixa original, uma piscina de plástico. Quando os pequenos cresceram a piscina encolheu e foi para parar nesse cantinho. E como lembro a festa dos meus meninos quando chegou a caixa colorida com figura de crianças se esbaldando n’água.
Caixas e mais caixas de sapatos guardam documentos. Elas provam e aprovam tudo que adquiri, as contas que paguei com boletos e carnês mensais, amados e odiados. Estimados quando chegavam ao fim e detestados desde a primeira prestação.
Capacetes esperam meu filho chegar para passear com os seus.
Parecem (os capacetes) estar olhando para mim e rindo da minha loucura passageira.
Na parede atrás de minha cabeça, medalhas. São mais de cem que, com meu incentivo, os filhos conquistaram. Eles se deram tão bem.... Já eu, não posso ser um exemplo de atleta. Misturado aos troféus de futsal, futebol de campo e outros esportes competitivos e disputados por equipes, encontram-se míseras taças de dominó que recebi por parcas vitórias em torneios de pouca importância. Pior, as vitórias não me exigiram mais do físico do que embaralhar pedras sobre a mesa e escolher algumas ao acaso, em busca da sorte.
Acabei de ver, no armário sem portas, um saco de ração para cães. Esse cachorro que mora entre nós e que me lambe as pernas e me abana o rabo cada vez que me encontra, passa melhor que muitos humanos. Tem de tudo, o jaguara! Ganha de tudo e parece que ri das pessoas que o cercam.
Estou ficando mesmo louco?
Vou deitar. Tentar dormir e quando acordar quero estar melhor.
Porque neste mundo doido não há de ter lugar para mais um maluco.
Aroldo Arão de Medeiros
30/01/2012