...EM "BERÇO DE OURO" !!!

...EM "BERÇO DE OURO" !

O literato acordara feliz, digo melhor, bem mais feliz que nos demais dias, até porque já vivia sem as antigas aflições que a falta de dinheiro traz a todo mundo e sem a tal "insegurança alimentar" (traduzindo, fome) tão comum ao brasileiro. O país é riquíssimo, poderia pagar 1 "auxílio" (BPC) para todo idoso na Nação inteira, mas não sobraria verba para os políticos e para essa Politica(lha) pavorosa. A vida do escritor seria "um mar de rosas", isto porque os antigos gostavam muito de... flores, suponho. (Prefiro dólares, reais !)

Mas, porém , contudo, todavia, ele tinha um irmão e, este, era a "pedra no sapato" dele, outro ditado horroroso. O mano era tudo menos sensato e, ainda ligado aos tempos de necessidade, colecionara centenas de objetos em caixas grandes de isopor, acumuladas nas laterais da casa, na ampla sala, nas duas saletas "do meio" e, claro, no quintal, até na cozinha. Faltou algum canto ?! Sim, o quarto do escritor, porém lá boa parte era de coisas dele, livros diversos, discos, as 2500 folhas de "rabiscos", roupas, etc. Apesar de tudo dava para ser feliz !

Com a "lixarada" vieram os ratos e a dupla "replicou" criando gatos, 8 ou 10 deles, a dormir pelos cantinhos que sobraram no casebre superlotado. A "novidade" chegou cedo para o escritor, quase junto com o sol:

-- 'Não encontrei o meu "auxílio" hoje, você "não sabe" onde está"?!, com a insinuação despudorada embutida na pergunta ofensiva. Isto era típico do irmão dele !

-- "Não, não sei, procure direito... deve estar lá onde você o guardou" ! (Escondera debaixo da pia da cozinha, em meio a sapatos velhos, livros, pequenas caixas, etc e etc.) Lá pelas 16 horas o escritor preparava-se para conhecer o novo Teatro, nos confins da cidade. O antigo, central, construído uns 20 anos antes, era um "caixote de cimento" cheio de BARES (?!) nas laterais das filas de cadeiras, um espanto. Aproxima-se o "espírito de porco"... nesse caso a pecha é a descrição exata do sujeito:

-- "Você não pode ir ao Teatro... e se te acontece alguma coisa lá ? Eu fico sem irmão e sem dinheiro" !

-- "Acontecer o quê ?! Ainda tenho 130 reais, dá pra gente ir "se segurando" até o meu BPC sair" !

-- "Isso não resolve nada... o meu só sai no fim do mês ! Você não pode ir" !

O escritor "balançou"... tinha uma taxa de Concurso literário para quitar e, além do mais, voltar a "viver apertado" tendo a grana a poucos dias de receber não fazia sentido. Tinha se comprometido, teria que quebrar a promessa feita, afinal ele era... IMPRESCINDÍVEL ! (ahahah)

A noite alongou-se "por 1 século" e veio nova manhã com sabor de "limonada podre"... seu irmão vencera mais uma batalha. A bem da verdade, ele vencera todas, até ali ! Porém, sentia-se "vingado"... na baderna insana em que a casa se tornara ("vitória de Pirro") o mano não acharia jamais o pacote plástico com ciscos de pão e solitária ratazana -- resistindo entre gatos sonolentos -- o arrastara para a toca onde criaria seus pimpolhos.

*** *** ***

Tempos depois, lá estavam 5 ou 6 "ratolinos" a esbaldar-se no ninho luxuoso, de papel de seda, em vez de trapos e papelão fedorento:

-- "ESPIA, ESPIA... tem até fitinha prateada, óia só" !

Dona "Rata Zhona", cheia de si, aproveita a ocasião:

-- "Pois é, meus filhos, mãe IGUAL a mim só tem uma... EU MESMA" ! (ihihih)

"NATO" AZEVEDO (em 28/set. 2024, 5hs)