No primeiro texto que escrevi sobre baratas, eu morava em Salvador em 2009 e tinha pavor delas. Morava num prédio no 14o andar, cujo sistema de esgoto muito antigo, era aberto e virado pra cima. Salvador tem uma umidade muito alta e faz muito calor. Então as baratas ficam no esgoto e quando chove aquilo ali esquenta demais, o chão vira um Air-Fryer e as baratas voam. Nessas horas sempre aparecia uma ou duas lá em casa e olha que eu morava no alto (sempre ficava pensando nos moradores do 1o andar… imaginando-os correndo em zigue-zague pela casa e gritando, dezenas de baratas voando tentando agarrar seus cabelos, um horror).


Enfim, os anos foram passando e quando você mora sozinho por muito tempo, você tem três opções com relação a seus medos: 1) deitar e se cobrir até o dia seguinte, mesmo que sejam ainda 3h da tarde. 2) Bater no vizinho gritando e pedindo pra que ele mate a barata pra você, o que faz com que vocês tenham, na prática… 2,5% de uma relação matrimonial. 3) Enfrentar o medo. […] Sem querer tirar onda, eu escolhi o terceiro.


Em “La Cucaracha III” (que eu não faço ideia onde enfiei o texto), eu falo sobre minha chegada em Lençóis. Mais precisamente meu primeiro dia num quartinho alugado, sozinho. Encontrei uma barata mutante, bombada, gigantesca, ágil, “Barata-da-Graciane-Barbosa”, hostil do car*%o que veio em minha direção. Ela fazia as baratas de Salvador parecerem coalas… Sem contar que as baratas de Salvador não são muito agressivas. Elas tem preguiça de conflito. Mas se desorientam com a chuva e procuram um lugar seguro… Por exemplo: Seu cabelo e seu prato de comida.

Bom… sem enrolação (eu meio que me perdi um pouco 🐼) anteontem aconteceu um fato que eu precisava contar pra vocês… De tarde eu fui varrer uma barata que estava morta em meu quarto/escritório. Porque eu tenho uma loja, e ponho remédio toda semana. Elas já aparecem mortas, geralmente. Mas essa barata era sagaz… Ela estava FINGINDO! Só pra que eu a colocasse em pé! Pronta pruma vida nova…!! Viajar talvez. Sei lá… Fazer trilhas, escaladas. E vup-vup-vup saiu correndo pra debaixo de minha cama.


Nunca esqueci de um poema de Bukowski que ele dizia que quando você vê uma barata, se você olhar pro lado, já era… você não a veria nunca mais… E ele estava certo. A barata simplesmente desapareceu! Eu suspendi a cama e não a encontrei, saí procurando pelo quarto (baygon e chinelo em mãos - como um verdadeiro gladiador) … e nada.


Quase 4h da manhã, eu tava feliz da minha vida, indo dormir extremamente tarde depois de assistir Star Trek e escrever textos. Segurava um chocolate zero açúcar e um livro (pra comer deitado e desmaiar no 1o parágrafo com um chocolate na boca – é assim que eu gosto de dormir).

Foi quando olhei a roupa de cama e pensei: “isso tá com tanto pelo de gato que tá parecendo um tapete, tá na hora de trocar”. Peguei outra roupa de cama nova e fui trocando… Foi quando vi… ali… deitada e morta… no colchão, numa posição BEM AO MEU LADO… ABARATAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARHHHHHGHHH!!!!!!! - “Filha da

puuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuutaaaaa….!!!!!!!!!! Sussurrei”. Dá pra gritar sussurrando (quem é mãe sabe). Aí fiquei pensando nesta visão traumática e em escrever o texto LA CUCARACHA IV, dividindo meus problemas com vocês (que estão pouco se lixando pra isso).


Concluindo, agora que me acalmei…E cheguei a conclusão bizarra de que aquela barata tinha UM CRUSH em mim. Então em vez de ir embora pra morrer em algum canto da casa, ela quis morrer ao meu lado, dormindo (possivelmente de conchinha) comigo enquanto eu lia um romance e comia chocolate.

Sabem quando a gente descobre a verdade e várias coisas vão fazendo sentido? Minha gata que É, de fato; o ser vivo que sempre dorme de conchinha comigo... Estava há alguns dias dormindo dentro uma gaveta. Eu pensei que ela estivesse com frio… Mas era CIUME!! Eu tinha trocado ela por um relacionamento tóxico, obviamente kafkiano... e sem futuro (como quase todos que tive na vida).

Meu medo de barata voltou em… mais ou menos... 40%. Medo de me apaixonar...


Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 26/09/2024
Código do texto: T8160648
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.