Aula de Tecnologia: Quando o WhatsApp Vira Missão Impossível
Era um domingo preguiçoso quando minha mãe me chamou, agitando o celular como quem exibe um troféu. “Filho, me ensina a usar o WhatsApp direito?” A frase parecia inofensiva, mas eu sabia: estava prestes a entrar num campo minado.
Sentei-me ao lado dela no sofá. Minha mãe, de óculos na ponta do nariz, segurava o celular com a delicadeza de quem manipula uma bomba. Abri o aplicativo e comecei devagar.
— Olha, mãe, aqui é a tela inicial. Essas são as conversas. Se você quiser mandar uma mensagem, é só clicar no nome da pessoa e...
— Espera! — Ela me interrompeu, com os olhos arregalados. — Tem que clicar onde?
— No nome da pessoa, mãe. — Repeti com um sorriso paciente, enquanto ela me olhava com a testa franzida, como se eu estivesse explicando física quântica.
— Mas e se eu clicar no nome errado? — A preocupação em sua voz era genuína, como se um clique errado fosse acionar um alarme.
— Não tem problema, mãe. É só voltar e clicar no certo.
Ela fez que sim com a cabeça, mas, na prática, estava mais perdida do que nunca. E, então, veio o próximo desafio: mandar um áudio.
— Aqui, você pressiona o botão do microfone e fala. — Demonstrei.
Ela tentou, mas soltou o botão antes de terminar a frase, enviando um áudio cortado: “Oi, é a mã...”. Respirei fundo, segurando o riso.
— Mãe, é só segurar o botão até terminar de falar.
Ela assentiu com uma expressão de concentração que eu só tinha visto antes nas aulas de matemática do colégio. Tentou novamente, mas desta vez esqueceu o que ia dizer. Me olhou aflita.
— Ah, esqueci, apaga isso!
Depois de algumas tentativas desajeitadas, ela finalmente conseguiu mandar um áudio completo. “Oi, é a mãe, consegui mandar o áudio! Amo vocês!”
— Viu? Fácil! — Disse eu, mais aliviado do que ela.
Achando que a missão tinha acabado, fui me levantar, mas aí veio o golpe final.
— E o Netflix, como eu coloco na TV?
Engoli seco. Sabia que não seria fácil. Peguei o controle remoto e comecei o passo a passo. Minha mãe parecia uma jogadora de futebol diante de um pênalti decisivo.
— Tá vendo esse botão? Ele é o que muda a entrada da TV. Aqui você escolhe o HDMI...
— Hã? O quê? — Ela olhou para mim como se eu estivesse falando grego.
— HDMI, mãe... esse cabinho que liga a TV ao... — Minha explicação morreu quando vi o olhar de desespero dela. Parecia que eu tinha acabado de destruir suas últimas esperanças de assistir à novela.
Pensei em desistir, mas o orgulho falou mais alto. Respirei fundo e continuei, agora usando metáforas mais simples.
— Imagina que o controle é um carro. O botão de ligar a TV é a chave. Aí você muda a marcha para a entrada HDMI e acelera para abrir o Netflix. Entendeu?
Ela ficou me olhando, piscando lentamente.
— Filho, você tem certeza de que eu preciso de tudo isso só para ver meu filme?
Soltei uma gargalhada. E aí, no meio daquele caos tecnológico, decidi que seria mais fácil resolver do jeito antigo.
— Sabe de uma coisa, mãe? Eu instalo um atalho aqui que liga direto no Netflix. E qualquer coisa, você me chama, tá?
Ela sorriu, aliviada.
— E eu posso te chamar pelo WhatsApp, né? — disse ela, segurando o celular com uma confiança recém-adquirida.
Saí de lá me sentindo um herói. Não um daqueles que salvam o mundo, mas um que salva as tardes de domingo de uma mãe que só quer ver sua série favorita sem enfrentar o monstro da tecnologia.
Mal cheguei em casa, o celular vibrou. Abri o WhatsApp e lá estava o áudio dela: “Oi, é a mãe. Filho, esqueci como manda um áudio, me ensina de novo?”
Ri sozinho e respondi: “Claro, mãe. Vamos lá, do começo.” Porque, afinal, ensinar tecnologia para os pais é como fazer dieta: é difícil, você tenta, mas sempre acaba voltando à estaca zero.