"Entre Joias e Brigadeiros: Como Não Escolher o Presente Ideal"
Todo ano é a mesma história: chega dezembro e, com ele, a pressão para encontrar o presente perfeito. Nada de meias, pijamas ou canecas. Decidi que, desta vez, eu realmente surpreenderia minha esposa.
No shopping, o caos reinava. Pessoas apressadas, sacolas se esbarrando, crianças correndo como se estivessem em uma maratona. Caminhei pelo corredor tentando não parecer desesperado, mas, na verdade, minha mente era um campo de batalha. "O que comprar para a mulher que já tem tudo?"
Passei pela loja de perfumes e pensei: "Que tal algo cheiroso?". Entrei decidido, mas, ao ver aqueles frascos todos, minha confiança começou a evaporar. A vendedora, com um sorriso treinado e brilho nos olhos, perguntou:
— Posso ajudar, senhor?
— Ah, claro! Quero um perfume… diferente.
Ela piscou, como quem tenta decifrar um enigma.
— Diferente como? — insistiu, segurando um frasco azul-claro.
— Tipo... algo que não cheire a perfume. — Ela me olhou com uma expressão que oscilava entre a pena e a incredulidade.
— Senhor, quer dizer... um aroma mais natural? — Tentei disfarçar minha confusão.
— Isso! Natural. Algo que diga "te amo", sem precisar falar. — O que eu estava dizendo? Parecia um poeta confuso.
Ela sorriu, pegou um frasco verde e borrifou no ar. O aroma era delicioso, mas me lembrou o sabonete do banheiro da minha avó. Saí de lá meio desanimado, mas ainda determinado a achar o tal presente perfeito.
Foi então que passei por uma loja de tecnologia. Olhei para os gadgets como um explorador diante de um mapa do tesouro. "Um smartwatch!", pensei, achando que tinha encontrado a solução. Mas, logo me lembrei que ela já tinha um. E melhor que o meu.
Continuando minha jornada, avistei uma pequena loja de artesanato. Tudo parecia tão... único. Fui atraído por uma prateleira de bonequinhos de madeira, cada um mais estranho que o outro. O vendedor, um senhor de barba branca e óculos tortos, percebeu meu interesse.
— Procurando algo especial, jovem?
— Sim, senhor, algo que não seja clichê, sabe? Nada de perfume ou eletrônicos.
Ele olhou para os bonequinhos e depois para mim, com um sorriso maroto.
— Que tal este aqui? — Apontou para um boneco esculpido em forma de coração. — Feito à mão, com madeira reciclada. Representa amor, sustentabilidade e... sinceridade.
Sorri, talvez mais por simpatia do que por convicção. O bonequinho era fofo, mas minha esposa não tinha cara de alguém que apreciaria “amor reciclado”. Agradeci e segui meu caminho.
Estava quase desistindo. Voltar para casa de mãos vazias era impensável, então fiz o que todo homem desesperado faria: entrei numa loja de joias. Mas ali, tudo parecia complicado demais, brilhoso demais, caro demais. Quando a vendedora mostrou um colar que, segundo ela, “refletia o brilho da lua”, quase fugi. Como ela poderia saber? Estava claro que eu estava no fundo do poço.
Sentei-me no banco da praça de alimentação, derrotado. E então, meu celular vibrou. Era uma mensagem da minha esposa: “Amor, comprei uma pizza! Vem logo! Nada de presente caro, só você já vale tudo!”
Foi aí que entendi. Não era o presente que importava, mas o gesto. No caminho de volta, passei numa doceria e comprei o bolo preferido dela. Cheguei em casa, meio suado, com o bolo quase desmanchando na caixa.
Quando ela abriu a porta, me olhou surpresa.
— Trouxe um presente perfeito — disse, segurando a caixa com a empolgação de quem acabou de descobrir um tesouro.
Ela olhou o bolo torto, soltou uma gargalhada gostosa e me abraçou.
— Sabia que você conseguiria!
E foi assim que descobri que, às vezes, o presente perfeito não está em prateleiras ou vitrines, mas em gestos simples e sinceros. Ah, e na pizza de calabresa com bolo de chocolate.