A Guerra dos Likes e Comentários

Hoje em dia, quem manda não são reis ou presidentes, mas sim os benditos likes. E eu, como um bom soldado da internet, entrei na batalha diária das redes sociais, em busca daquela dopamina virtual que só os coraçõezinhos e polegares pra cima conseguem oferecer.

 

Acordei cedo, ainda de pijama, cabelo em pé e olheiras dignas de um panda. Com uma xícara de café na mão, sentei-me à frente do meu laptop como quem se prepara para um duelo. Antes de qualquer coisa, publiquei uma foto minha com uma legenda inspiradora: "Um novo dia, uma nova chance de ser melhor!" Pronto. Era só esperar.

 

Começaram a aparecer os primeiros likes. Ufa, meu coração disparou como se estivesse numa montanha-russa. Mas então, nos comentários, começou o caos. Minha tia Ivone, sempre uma figura, escreveu: “Você está ótimo! Mas quando vai arranjar um emprego de verdade?” Senti a tapa virtual com força. Antes que eu pudesse responder, meu primo Felipe entrou na conversa: “Vai lá, tia! Bate mesmo! Hahaha.” Meu olho começou a tremer. Se um emoji pudesse descrever minha cara, seria aquele de nervosismo com a gota de suor.

 

Enquanto eu tentava digerir o “apoio familiar”, decidi dar uma olhada na minha timeline. E lá estava ele: o post polêmico de um amigo de infância sobre futebol. Algo como “O VAR só prejudica o meu time!” E foi o suficiente para desencadear a Terceira Guerra Mundial nos comentários.

 

Primeiro, um cara que eu não conhecia começou a argumentar com dados e estatísticas, como se estivesse defendendo uma tese de doutorado sobre arbitragem esportiva. "O VAR não erra! Os números mostram que 72% das revisões são precisas!" Outro, usando uma foto de perfil de super-herói, rebateu: "Você só defende o VAR porque seu time é favorecido, né?"

 

Os comentários foram subindo de tom, passando de futebol para política. Eu, com a pipoca imaginária nas mãos, lia cada palavra, os dedos coçando para participar. Foi aí que vi o primeiro caps lock do dia: “BOLSONARO TEM RAZÃO! VAR É COISA DE PETISTA!” Meu Deus, o que estava acontecendo ali?

 

Enquanto a guerra seguia, uma notificação piscou. Era minha mãe. Ela havia comentado na minha foto, um texto gigante, daqueles cheios de emojis de coração e flor. “Meu filho, orgulho da mamãe! Que Deus te abençoe e te proteja sempre! ❤️🌸🙏” Respirei fundo. Sabia que ela só queria ajudar, mas tudo o que eu precisava era de um simples like.

 

Minha cabeça já estava a mil, quando o pior aconteceu. Uma mensagem privada do meu chefe: “Podemos conversar sobre suas postagens nas redes sociais?” Engoli seco. Já imaginava minha carreira desmoronando por causa de um post bobo. Liguei para ele, a voz saindo mais fina que o normal: “Oi, chefe, tudo bem?”

 

“Tudo bem, só queria dizer que adorei a legenda inspiradora. Precisamos desse otimismo na equipe!” Meu alívio foi tanto que quase derramei o café na mesa. Desliguei, rindo da situação.

 

E assim foi meu dia. Um turbilhão de emoções, entre buscas desesperadas por likes, brigas insanas sobre futebol e uma epifania familiar inesperada. A moral da história? Nas redes sociais, um simples post pode te levar do topo do mundo ao fundo do poço e vice-versa, tudo isso sem sair do sofá.

Graciliano Tolentino
Enviado por Graciliano Tolentino em 25/09/2024
Reeditado em 25/09/2024
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