O Caos das Reuniões de Zoom
Era uma segunda-feira preguiçosa quando recebi o convite: reunião de Zoom com toda a equipe. Já sabia o que esperar: aquele festival de microfones abertos, câmeras esquecidas e participações especiais de pets e familiares. Resolvi me preparar: camisa social por cima, pijama por baixo. Afinal, quem vai saber?
Entrei na reunião e, como sempre, o caos reinava. O chefe, com sua expressão de quem não dormia há dias, tentava começar. “Pessoal, vamos falar sobre as metas...” Mas foi interrompido por um som alto. Todos olharam para a tela de Carla, cuja câmera mostrava um teto vazio enquanto, ao fundo, uma voz irritada gritava: “Eu já falei que não vou tirar o lixo hoje, João!”
Carla, sem perceber o que acontecia, apenas digitava, alheia ao próprio drama doméstico transmitido ao vivo para toda a empresa. Uma gargalhada contida ecoou no chat. O chefe, visivelmente desconcertado, tentava se recompor. “Carla, acho que seu microfone está ligado.” Ela finalmente se deu conta, arregalou os olhos e desligou tudo tão rápido que parecia que sua conexão tinha sumido.
Logo depois, veio o João do financeiro. Ele entrou na sala virtual como quem entra numa arena de luta, mas esqueceu a câmera ligada enquanto ajeitava o cabelo de um jeito quase coreografado, olhando para o espelho. Só percebi que ele estava ciente de nós quando gritou: “Droga! Vocês estão me vendo?” Antes que pudéssemos responder, a imagem cortou para o nada.
Enquanto o chefe tentava retomar o controle, surge a imagem de dona Vera, a mãe do Lucas, aparecendo ao fundo com uma bandeja. “Filho, trouxe suco de laranja e biscoitos.” Lucas, mais vermelho que um tomate, sussurrou desesperado: “Mãe, tô em reunião!” A pobre senhora, sem entender, deu um sorriso constrangido e saiu de cena balançando a bandeja. E lá fomos nós, mais uma vez, sufocando risos e tentando parecer profissionais.
Então, como cereja do bolo, entrou o Tiago. Não era para ele estar na reunião. “Gente, desculpa, é aqui o treinamento de vendas?” Ele estava de óculos escuros e segurando um violão. Ficamos todos imóveis. “É... Tiago, você entrou na sala errada.” Ele sorriu, sem graça, e saiu tocando um acorde desajeitado.
Por fim, o chefe, já sem paciência, bufou: “Alguém mais vai querer dar um show hoje?” Todos, agora sérios, responderam em coro. “Não, chefe.” Então, começou a apresentação de slides, que cortou pela metade porque a conexão dele caiu. Esperei cinco minutos, dez, quinze. Nada do chefe voltar. Foi então que, sem perceber, todos relaxaram e a reunião virou um bate-papo descontraído sobre as últimas séries do Netflix.
Depois de meia hora, o chefe voltou. “Bom, continuando...” E aí, veio o clímax: “Gente, estava ouvindo tudo! Vi que minha internet caiu, mas continuei conectado pelo celular. Muito bom saber que estão tão motivados com a ‘estratégia das séries’.”
O silêncio constrangedor que se seguiu foi interrompido pelo meu gato, que resolveu pular na mesa e, com uma patada certeira, desligou minha câmera. Desculpa perfeita. Desliguei o microfone e ri sozinho.
Quem diria que uma simples reunião de Zoom renderia tantos episódios? E pensar que tudo o que queríamos era falar sobre metas...