Criança inventa palavras
Duas crianças entre três e cinco anos criaram, ou digamos inventaram, algumas palavras que são o máximo. São dois irmãos, um menino e uma menina que, aos olhos dos pais e avós, são muito inteligentes, equiparando-se a eles quando eram pequenos. A modéstia impera naquela família.
A primeira palavra inventada foi “belisquinho”, que na cabecinha inocente da menina é um beliscão muito pequeno, aplicado sem raiva, com carinho.
Depois vieram outras e até explicações interessantes para palavras já existentes. É o caso de peixe, que no dicionário significa um animal cordado, aquático e que respira por brânquias. Tem muito mais definições, mas não vale a pena encompridar se o menino afirma tão somente: “peixe é o que vive no mar e se come”.
Voltemos a novas palavras que certamente chamam a atenção de qualquer pessoa. A menina substituiu bagunça, ou bagunçada, por “bagunceirada”. Nada mais justo já que aquele que faz confusão, desordem ou baderna é um bagunceiro. Por que não passarmos a chamar de bagunceirada aquilo que a mãe e a avó têm que arrumar todo santo dia?
Tentarei explicar o significado que a menina quis dar para a palavra “feiuda”. Além de chata tu és feia, é o que desconfio que ela quis dizer, pois inventou essa palavra num momento de raiva. Por que não substituímos feiosa por feiuda, já que a qualidade de feio é feiura?
Certa vez ele usou a palavra “pobro” e ela em sua defesa justificou: pobro é o pobre que é menino. Disse isso com tanto carinho, olhando para um pedinte, que o pobro deve ter se aquecido com todo aquele amor.
Para encerrar, uma última palavra que imaginei que a menina de três anos havia inventado: “barulhada”. Triste ignorância, a palavra existe e quer dizer o mesmo que barulheira.
A minha cabeça começou a fazer uma confusinha, ou melhor, confusiúda, aliás, eu nem sei se sei o que sei.
Aroldo Arão de Medeiros
07/05/2006