Propaganda enganosa?

“Meu rapaz, olha a foto. Deve haver algum engano.” Eu tentava argumentar com o atendente, que fazia uma cara de riso contido, como se estivesse me zoando.

Essa história começou numa sexta-feira, depois de uma semana estressante e cheia de privações alimentares pra tentar perder peso, em que você decide chutar o pau da barraca e enfiar o pé na jaca.

Eu merecia um prêmio (comestível, é claro).

Com esse objetivo, me dirigi a uma rede de fast food dessas “famosinhas” da cidade para comer aquele sanduíche com tudo que coubesse dentro. Abri o cardápio e escolhi o mais alto, calórico e digno de um enfarto que havia. Quem nunca?

Enquanto aguardava a chegada do objeto do pecado, eu observava a bela foto do cartaz do sanduíche escolhido.

Quando o lanche chegou e eu abri a embalagem, a decepção se estampou na minha cara. Me senti enganada. Conferi o menu pra ver se não haviam trocado, chamei o atendente pra me certificar de que o pedido estava certo.

— Não, senhora. É este sim — ele tentava me convencer.

— Não pode ser. Olha como está mais viçoso na foto. Este aqui está minguado.

— É assim mesmo. É que pro cartaz eles devem fazer um efeito de fotografia, com iluminação, brilho…

— Maquiagem no sanduba? Francamente! — protestei.

Tive que comer olhando pro cartaz pra satisfazer o ditado de comer com os olhos. Queria mesmo era comer o cartaz. Enquanto eu comia, pensava se o fato poderia ser considerado uma propaganda enganosa. Será que caberia uma denúncia?

Pensando bem, e considerando que todos os ingredientes estavam lá e em bom estado para consumo (fiz questão de conferir), provavelmente não ganharia a causa. Deveria ser proibido usar recursos fotográficos em comida. A menos que o comerciante fornecesse óculos que reproduzisse a imagem da foto enquanto o consumidor comesse.

Na minha infância, deixar uma criança na expectativa de comer algo gerava uma dor de barriga e espinhela caída no pobre infante. No meu caso, apenas fome mesmo.

Parando pra pensar, observei que tudo hoje em dia é maquiado pra parecer bom, bonito, saudável, elegante, feliz. As redes sociais que o digam. Lá todo mundo parece sano e equilibrado. Vivemos a cultura do “me engana que eu gosto”. Todo mundo faz uso e abuso dos filtros pra esconder olheiras, pochetes e rugas.

Os efeitos nas imagens fazem as pessoas parecerem esbeltas ou magérrimas, cheias de pontas de osso, fazendo qualquer roupa parecer bonita. Infelizmente essa é a nossa realidade. As pessoas querem mesmo é ver o belo e não o grotesco.

Mas a propaganda enganosa não para por aí: Temos cabelo emendado, sobrancelha desenhada, lábios aumentados, caras repuxadas, silicone em toda parte, lentes de contato (para olhos e dentes), e a lista só aumenta.

Fico imaginando como fazer um passaporte com tantos apetrechos removíveis. Se mandarem tirar tudo que não é original de fábrica, não vai sobrar muita coisa.

Outro dia vi uma mulher de manhã na padaria bem à vontade comprando pão, com seu moletom surrado, cara ainda amassada, sem maquiagem, mas os cílios gatinhos (gigantescos) estavam intactos.

Um amigo meu, que costuma fazer uns bicos de segurança numa boate, me disse que após uma briga entre mulheres numa festa, só sobraram unhas postiças, enchimentos de peito e rabos de cavalo.

Há uma descaracterização consentida da imagem de pessoas e coisas. E está tudo bem porque gostamos disso. O importante é ter em mente que, aconteça o que acontecer, o consumidor terá sempre razão.