DIÁRIO DE UM DEDO MINDINHO
De todas as partes do corpo, o dedo mindinho é, sem dúvida, a mais injustiçada. Um pequeno e frágil apêndice, condenado a uma existência marginal, sempre à mercê dos perigos do mundo. Enquanto os outros dedos, robustos e imponentes, se dedicam às tarefas nobres da vida, o mindinho permanece à espreita, um mero espectador, condenado a presenciar a dança da existência sem jamais ter a chance de participar.
E se a vida já o tratasse com desdém, o destino, em sua cruel ironia, reservava-lhe um papel ainda mais ingrato: ser o alvo predileto dos acidentes. Era como se uma força invisível, movida por um humor negro e implacável, o guiasse para a zona de impacto, para o encontro fatal com a mesa, a porta, a parede.
O mindinho, em sua fragilidade, era como um alvo em um jogo cruel, onde a vida se divertia a arremessar objetos contundentes em sua direção. Um simples esbarrão, um movimento brusco, e lá estava ele, em meio a uma sinfonia de dor, a gritar em silêncio, a implorar por piedade.
A dor, para o mindinho, era uma constante, um fantasma que o assombrava em cada esquina, em cada passo. Era como se ele carregasse consigo uma memória ancestral, um legado de sofrimento transmitido de geração em geração, desde o primeiro mindinho que, em tempos imemoriais, teve a infelicidade de se chocar com um objeto desconhecido.
Mas o mindinho, apesar de sua fragilidade, era também um mestre da resiliência. A cada pancada, a cada contusão, ele se recompunha, se curava, como se a dor fosse um rito de passagem, um teste de resistência que o tornava mais forte, mais endurecido.
E assim, o mindinho seguia sua jornada, um pequeno guerreiro em um mundo hostil, um eterno sobrevivente em um palco de crueldade e ironia. Sua história, uma saga de dor e resistência, um testemunho silencioso da fragilidade da existência, um lembrete de que, por mais insignificante que pareça, cada parte do corpo tem seu papel, sua importância, sua história.