Onda de Calor
Há não muitos dias, o noticiário transmitia a informação de que dentro de pouco tempo, uma onda de calor assolaria boa parte do país. Se por si só a notícia já aparenta não ser tão agradável, imagina o significado do termo em uma região onde a temperatura média anual já beira os 35º C. Como se não fosse suficiente, é também o período em que a margarina no pote fica em estado líquido se esquecida fora da geladeira (o que acontece bastante) e horrível para passar no pão.
Não me surpreenderia se, ao sair na rua, visse cair o galeto de algum abutre que ousou levantar voo em pleno início de tarde. Imagino também que as clínicas de estética, em seus procedimentos de bronzeamento natural, devam estar reduzindo o tempo de exposição solar em uns 15 segundos, arriscando-se ainda proporcionar um procedimento de troca de pele ao cliente (diante da descamação por insolação). Poderia até apresentar o caso ocorrido em uma senhora da região, que segundo relatos, após uma manhã de exposição à luz solar na fila de um banco, começou a descamar e trocar de pele. Contudo, os vizinhos mais próximos desmentiram o fato, alegando que a sujeita do fato era uma cascavel por natureza, sendo esse um processo natural de sua espécie.
Outro fato interessante acerca da onda de calor, é o modo como ela desperta, em infelizmente uma pequena parcela de pessoas, o ímpeto de se dedicar ao seu ambiente de estudo/trabalho. Crianças querem ir para a escola e adultos querem ir para o trabalho. Não importa se será preciso concluir um relatório antes das 16h e iniciar a planilha para ser entregue até o fim da semana: na agradável temperatura de 20ºC proporcionada pelo ar condicionado da sala, eu desenvolverei todas as habilidades, competências e tarefas que o mundo corporativo possa exigir de mim, fazendo hora extra, com uma expressão de alívio (e sem ter uma síncope de calor, gastura e suor). Quem não pode desfrutar desse privilégio, tem de se virar com o que tem, seja um umidificador, ventilador, leque, a brisa do vento (que parece ter sido emitida por um lança chamas) e a água gelada da garrafa térmica, que a essa altura parece nos conduzir por alguns milésimos para as gélidas montanhas do Himalaia.
A chegada da onda de calor começa oficialmente quando alguém faz alguma relação do aumento abrupto da temperatura com o fim do mundo. Coincidentemente essa mesma pessoa tende a apresentar comportamentos negacionistas e nada ambientais, quando não culpar as pobres vacas pela emissão de metano na atmosfera (inclusive, será essa a finalidade pelas quais os extraterrestres abduzem vacas? Perdão, viajei na maionese aqui). Voltando ao raciocínio, parece ser nesse exato momento que a energia elétrica perde potência: o ventilador fica mais fraco e o ar condicionado precisa estar em uma temperatura ainda menor para proporcionar uma noite decente de sono. Tragédia então é um deles parar de funcionar e você ser obrigado a encontrar um cômodo mais fresco na casa (minha dica nessas situações é procurar o banheiro, é sempre mais frio por lá).
As companhias elétricas que lutem para dar conta de tanta demanda, do mesmo modo que temos de lutar para pagar as contas no fim do mês que chegam a níveis astronômicos (e astronômicos mesmo, compartilhei com meu amigo que está a bordo da Estação Espacial Internacional e ele disse Wow! This electricity bill is really expensive!). Graças a isso, temos cada vez mais a procura por instalações de painéis solares para amenizar a situação e que tem se mostrado uma fonte mais rentável e segura do que apostar em aplicativos de animais com o nome apresentado no diminutivo (é, vocês sabem do que estou falado).
Por fim, resta a difícil tarefa de adaptação. A previsão da onda de calor é que se estenda por algumas semanas. Diferente da previsão de aumento da temperatura climática que segue em escala crescente. Tento pensar que a geração futura, mesmo estando em condições mais adversas, calorosamente falando, conseguirá sobreviver a tudo isso. É possível que também compreendam as circunstâncias complicadas e até injustas sobre como o mundo funciona, nas quais nunca se pensam até encontrar uma porção de juízo que ainda sobrevive nos miolos fritos pela onda de calor: Nem todos terão a oportunidade de um ventilador ou ar condicionado, as vezes nem mesmo de um sorvete em um fim de semana qualquer, não sei se teremos sequer tempo para evoluir para uma variante mais adaptada ao calor. Haverá sempre um sol para cada um (exceto nos meses de chuva).
Cabe ao ser humano, no ápice de sua sabedoria, conduzir esse momento de sobrevivência da melhor forma possível. O caminho que escolhido em plena véspera de fim de semana, foi o de agregar o sentimento de fraternidade nessa tarefa de suportar a onda de calor: “Grupos de mensagem - Churrascão com a turma - Fala pessoal, vamos marcar um churras? Quem topa?”.