Consórcio

Ramon, Mauro e Luíza são os filhos de um amigo meu que se chama Humberto.

Esse meu amigo traçou o plano de locomoção de seus filhos fazendo consórcio de carros populares. Quando seus filhos completassem 18 anos queria que os mesmos tivessem seus veículos.

Quando Ramon, Mauro e Luíza fizeram 15 anos comprou um consórcio e segundo seus cálculos três anos depois seriam sorteados.

Ramon e Mauro depois de completarem os tão esperados 18 anos receberam seus carros. Não era zero, pois como eram jovens dava seu carro e ficava com o “lisinho”. Foi assim que passou a chamar seus novos automóveis.

O que ele não esperava era o que aconteceria com Luíza.

A bela jovem fez 19 anos, entrou na Faculdade e nada de carro.

Começou a encher o seu saco e ele aporrinhado foi participar da assembleia em sua companhia. Primeiro acompanhou atentamente o sorteio, pois só faltavam para encerrar o plano, 6 concorrentes. As bolas 20, 23, 43, 50, 65 e 74 giravam no globo de metal e seu globo ocular girava junto empurrando a bola 20 para baixo. Quando ela estava caindo, eis que a intrometida 23 deu um salto e foi se alojar na saída. Deu um murro na cadeira e quase chorou. Minutos depois o locutor anunciou que o participante sorteado estava em atraso com sua prestação, portanto o mesmo não teria direito ao carro e novo sorteio seria realizado.

Novo sorteio, nova esperança. Dessa vez fechou os olhos. Não adiantou a bola 50 foi a sorteada e o participante estava em dia com suas obrigações.

Suas esperanças passaram a ser os lances que aconteceriam em seguida. A grana estava curta, mas como brasileiro foi dar o seu jeitinho. Conversou com o representante da assembleia e ficou sabendo que ninguém havia dado lance. Preencheu então a proposta assinalando uma cota o que corresponde a 1 prestação e colocou no envelope.

O apresentador vai contar até 3 e depois não aceita mais lance.

É um, é dois, aparece um senhor que berra:

- Quero dar um lance.

Saíram dezenas de palavrões de sua cabeça que só não vieram à tona porque sua querida filha estava ao seu lado. Os dois (pai e filha), se entreolharam e nada falaram. O silêncio dizia tudo.

Abertos os envelopes, os dois empataram, uma cota cada. Novo sorteio, novo sufoco. Novamente não teve sorte.

Saíram os dois, de braços dados, mudos e quando iam transpondo a porta da sala, o representante do consórcio chamou seu nome.

- Seu Humberto, venha cá, por favor.

Eles voltaram sem saber o que os aguardava.

Recebi um telefonema do gerente e o grupo tem saldo para mais um carro.

Deu um pulo de alegria, pois já havia até escolhido o carro. Era um modelo novo, cinza prata perolizado com todos os acessórios.

Foram lá ver o carro e com triste surpresa constataram que aquele homem da bola 50 havia levado o mesmo.

Liberou então Luíza para que ela escolhesse o seu carro, zero quilômetro, e ele ficaria com o seu “lisinho”, já não tão “lisinho”.

É ele o autor da frase: “Quem tem consórcio, com sorte, sem sorte, fica sócio do ócio”.

Aroldo Arão de Medeiros

21/04/2006

AROLDO A MEDEIROS
Enviado por AROLDO A MEDEIROS em 15/09/2024
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