Expedição Cinegética
Chamada carinhosamente pelo pai por ponta de rama, Vilzedir Maria foi, realmente o fim da rama, fim da safra, raspa do tacho de uma ninhada de treze filhotes humanos. Muito humanos inclusive.
Naquele episódio Adalberto, à época com treze anos, conta que, lendo O Sitio do Pica-Pau Amarelo, deparou-se com as Caçadas de Pedrinho do paulista Monteiro Lobado, assim:
Dos moradores do sítio de Dona Benta o mais andejo era o Marquês de Rabicó. Conhecia todas as florestas, inclusive o capoeirão dos Taquaruçus...
Em algum lugar da obra, ele teria lido que Pedrinho saíra em Expedição Cinegética.
Gostou da “palavrinha” aprendida e arquitetou um plano para usá-la na primeira oportunidade que lhe ocorresse.
Certo dia, a irmã caçula apareceu no armazém onde Bertim trabalhava e logo o menino executou seu plano..
— Vilzedir - disse ele - Se alguém perguntar por Diassis, responda que saiu em expedição cinegética.
Ora, esse nível de linguagem com um cliente, só coisa mesmo de menino, e menino que lia, aprendia palavras novas e gostava de empregá-las, às vezes oportuna, às vezes, inoportunamente.
Não tardou, pois, e um freguês vendo comércio entregue a duas crianças, perguntou:
— Cadê Diassis?”
Imediatamente, Vilzedir respondeu:
— Diassis saiu em caçada cinegética.
Eu rio das águas passadas, e guardo a lembrança deste episódio até hoje, apesar de já decorridos mais de sessenta anos, a imagem chega, clara, viva, quase palpável de uma menina séria, tirada a falante, em seus tenros seis ou sete anos de idade.
Caçada cinegética é de arrancar um sorriso quase gargalhado lembrando daqueles tempos em que o vento soprava nas orelhas de sua meninice[1].
[1] [1] LIMA; Adalberto Antônio de; Recanto das Letras 08/06/2008; Código do texto: T1024739 publicado com o título Bertim e a irmã caçula em Expedição Cinegética.