Vá com Deus ou...
Estava eu relaxadamente na Praia Grande, aproveitando o sol e uma brisa suave, quando decidi fazer algo um tanto incomum para esse cenário: ler. A leitura sempre me proporcionou momentos de tranquilidade, mas eis que, em meio a páginas de descontração, me deparo com um texto tão ridículo que quase estraguei o dia de praia. O tema? A banalíssima frase "Vá com Deus" ou sua variante "Fique com Deus". De repente, senti um impulso incontrolável de revirar os olhos. Ali, naquele pedaço de papel impresso, alguém realmente estava tentando me convencer de que essas expressões não faziam nenhum sentido. Aparentemente, me senti engessado em não poder expressar minha cultura, num mundo que motiva o multiculturalismo. Ora, sinceramente, se alguém não quiser ir ou ficar com alguém, que não seja o Senhor das alturas, tenho outras opções bem mais interessantes e, porque não dizer, mais adequadas aos tempos modernos, e digo são frases que estão nos funks nos traps e outros estilos musicais, e são bem conhecidos, por exemplo, "Vá para a casa do caralho"? Uma opção direta, sem rodeios, e com uma sinceridade quase palpável. Ou, talvez, "Vá à merda" — uma alternativa que, embora comum, ainda possui seu charme bruto, vá pro inferno, por sua vez, pode soar religioso demais para alguns, mas "Vá para o raio que o parta" parece uma sugestão igualmente eficaz e com a vantagem de carregar um tom dramático. Mas a lista de alternativas não para por aí. Imaginemos um mundo onde as pessoas expressam seus desejos mais autênticos: "Vá se fuder" seria uma despedida poderosa, ideal para aqueles momentos em que a paciência já se esgotou. E, para os dias em que a ousadia estiver em alta, por que não "Vai para a puta que te pariu"? Expressões como essas têm o mérito de serem diretas e, acima de tudo, absolutamente humanas, uma vez que vá com Deus ou fica com Deus incomoda, talvez essas alternativas possam ter efeito mais realista. O que me incomoda, talvez, não seja a frase em si, mas a presunção de que devemos acatar passivamente o que nos dizem, e eu acredito que Vá com Deus ou fica com Deus não é uma imposição mas uma simples forma de despedida contida de culturas, não reflete um desejo de controlar, de domar a liberdade do outro, nem de reduzido-lo a um ser submisso, que aceita o destino que lhe é apontado. Ora, quem não quiser ir com Deus que não vá! E quem não quiser ficar com ele, que também não fique. Não, se obriga e o direito de decidir com quem você vai ou você fica indefere do jeito de despedir. Afinal, a liberdade de expressão existe para isso: para que possamos mandar as pessoas para onde quisermos, sem restrições religiosas ou sociais. Então, da próxima vez que alguém lhe disser "Vá com Deus", responda: "Vá você, porque eu vou para onde bem entender". E ponto final , assim até a próxima crônica e fique com Deus.