Ceia de Natal diferente

Quem diria que a família Soriedem faria uma ceia de Natal que bombaria nos meios de comunicação virtual. Tudo começou quando decidiram se reunir no domicílio paterno e trocar presentes no popular Amigo Secreto ou Amigo Oculto.

Na conversa entre os irmãos estabeleceram-se as regras. Não seriam dadas lembranças extras, somente as do amigo secreto, e o preço teria um valor mínimo e um máximo estipulados anteriormente. Exigência de um dos irmãos era de que todos fossem à Missa do Galo e só depois seguiriam para a casa dos pais fazer as revelações, comer e beber. A mãe faria a comida e as noras, as sobremesas.

No dia 24 de dezembro de 2012 perfilavam-se todos na Igreja São Judas Tadeu. Os pais, três filhos e esposas e os três netos, todos muito compenetrados em suas roupas domingueiras. Alguns concentrados na missa, mas outra pensando apenas que naquele instante poderiam estar mexendo no telemóvel, digo, celular. Outra ainda, não acompanhava as músicas e orações porque fazia décadas que não entrava em qualquer instituição religiosa cristã. Havia dois que, com a desculpa do calor, saíam para beber água e demoravam tempo suficiente para pegá-la no dique do Itororó.

Após a missa partiram em caravana, felizes e ansiosos, para receber e dar presentes. O dono da residência, eufórico, havia bebido três martelinhos de pinga e, embalado pela birita, abriu o cerimonial:

- Como patriarca, antes de começarmos a revelação dos amigos secretos, quero lhes dizer algo que não agradou a alguns dos participantes e a mim. No próximo ano não poderão ser feitos pedidos de “vale bolsa”, “vale roupa”, etc. Fica sem graça alguém dar um pedaço de papel e não poder ser fotografado com o presente em sua caixa enfeitada. Outra exigência para o próximo ano: não poderão ser aceitos pedidos que extrapolem o acordado e com isso quem o ganha esnoba um presente caríssimo, mesmo que tenha que pagar o excesso.

Sem nenhuma empáfia, ele deu seu presente. Fugiu à regra, não contemplando a solicitação do amigo secreto. Mas explicou que o pedido fora feito muito em cima da hora e ele, apressado como sempre, já houvera comprado. O sem sorte em vez de ganhar um cooler teve que se contentar com dois livros sobre Pink Floyd.

Seguiram-se as distribuições. Sempre tem alguém que aproveita o momento para uma brincadeira divertida, um trote.

Uma pediu uma sandália rasteirinha branca e seu “amigo” deu-lhe uma sandália de dedos branca e vermelha do Joinville Esporte Clube.

Explicou que seu time mais um ano não alçou voo e, portanto, a sandália poderia ser considerada rasteirinha. Depois dos risos, puxou outro presente e aí sim entregou a alpercata desejada.

Teve também aquela que recebeu o pedido de jogo de cama para inaugurar na casa nova que está sendo construída. Um engraçadinho entregou um pacote grande muito bem adornado, mas cujo recheio era nada mais nada menos que um penico contendo cerveja imitando urina e excremento de borracha, imitando o fedorento. Entregou em sua mão um rolo de papel higiênico. Depois de explicar que entendera mal o pedido, trouxe uma caixa com jogo de banheiro na cor verde, conforme fora solicitado.

Os presentes eram os mais variados possíveis. Teve chaleira de inox (ô), palavra pronunciada dessa maneira por quem a pediu. Filtro solar, óleo para o corpo, loção hidratante e iluminador foram entregues para quem queria ficar mais bonita do que é. Jogo para computador e vale compras (bolsa, roupa, etc.) foram os pedidos que ano que vem não serão mais aceitos.

Bermuda esportiva e bolsa transversal foram dadas para um casal. Um dos que mais ganhou presentes foi quem pediu maleta de fichas para jogo de pôquer. Saiu carregando além dela, bolinhas de pingue-pongue e maleta para notebook (ambas usadas, mas dada com o coração).

Houve quem ganhou um pijama de verão que mais tarde mostrou para o marido, entre quatro paredes, é óbvio.

O largo, ou seria o sortudo, foi o anfitrião. Pediu uma cesta de Natal, ganhou e mais ainda, ele e a esposa ganharam outra, na competição de canastra realizada após o jantar entre os casais. Vai é engordar um pouco, já que nas cestas tem: panetone, pêssego, minibolo, uva passa, água de coco, caixa de bombom, barra de chocolate, pão de mel, biscoito champanhe, barra de cereal, leite condensado, gomas sortidas. Só para ficar nos itens que podem ser saboreados de madrugada.

As declarações foram de uma diversidade incomum.

“Ele não é o melhor, mas é o maior. Em altura”.

“O senhor está sendo uma das pessoas mais importantes da minha vida”.

“Meu irmão, pode ser que não seja o amigo que tanto queres, mas sempre serei teu irmão”.

“Meu amigo é bem alto. Tá bom. Sei que os restantes têm quase dois metros. É careca. Pelo menos eliminei um. É o amor da minha cunhada”.

“Minha amiga secreta é secreta na brincadeira, mas amiga na vida real”.

E assim por diante, foram falando e entregando os presentes.

Quem entregava e recebia estava doido era pela ceia.

O jantar foi delicioso: maionese, arroz à grega, lombo suíno, chester à Califórnia, farofa e salpicão de frango. Sem falar em outras saladas e sustâncias que complementaram e mataram a fome por vários dias.

Como foi dito anteriormente as noras trariam as sobremesas.

Elas sabem que a sogra não se aguenta e fez também algumas guloseimas. O pudim de leite, a salada de frutas e a torta de ricota foram trazidos pelas jovens. A anfitriã fez pavê, torta de sonho de valsa e quatro tipos de sorvetes, sendo que um era grande e com três sabores diferentes.

No próximo ano, com avença ou desavença, vai haver outra ceia de Natal. A família é unida e desunida. Nessa hora se unem, rezam ao bom Deus por união e amor entre todos.

Aroldo Arão de Medeiros

05/12/2013

AROLDO A MEDEIROS
Enviado por AROLDO A MEDEIROS em 31/08/2024
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