A cabeça que não sabe dizer ai!

Dizem que a dor de cabeça é quase uma condição universal. Um rito de passagem que atinge a todos, sem exceção. Eu, no entanto, passei incólume, imune à ditadura da enxaqueca, da tensão, da pressão e de todos os outros vilões que habitam as cabeças alheias. Aos sessenta e tantos, nunca soube o que é uma dor de cabeça.

"Isso é sorte," dizem uns. "Você é uma aberração!" exclama minha médica. Eu rio, quase me sinto um super-herói. Cabeça de ferro, sem kryptonita. Acreditem, nem aquele almoço em família com as crianças correndo e alguém falando pelos cotovelos me tirou do prumo. Zero dor. Confesso que às vezes fico até curioso – será que a dor de cabeça é uma experiência secreta que estou perdendo? Como uma iguaria que nunca provei?

Na juventude, imaginava que um dia ela bateria à porta. Um dia, depois de uma festa longa ou de uma noite mal dormida, a dor de cabeça, com sua fama de visitante incômoda, me pegaria de surpresa. Mas o tempo passou, e nada. Talvez minha cabeça tenha uma placa de "proibida a entrada sem convite".

Se existe uma recompensa por essa "falta de experiência"? Claro, há uma certa vantagem em viver sem essa nuvem pairando sobre a testa. Mas também há desvantagens – jamais pude usar a célebre desculpa "não posso, estou com dor de cabeça" quando alguém me chamava para algo entediante!

No fundo, talvez minha cabeça só tenha decidido que não faz parte do clube das dores. E eu, pacificamente, sigo sem saber o que seria viver com esse peso invisível.

Se um dia ela resolver aparecer? Bem, aí, ao invés de me queixar, vou me sentir parte do grupo. Mas até lá, sigo leve, literalmente, de cabeça fresca.

José Freire Pontes
Enviado por José Freire Pontes em 28/08/2024
Código do texto: T8138929
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