O Restinho de Café
No canto da máquina de costuras, as emoções...
Às vezes, no fim do dia, percebo ele ali: o restinho de café frio esquecido no canto da máquina. Nem quente, nem morno > apenas gelado, meio morto. Passou o dia inteiro ali, sem que eu percebesse. Tão pequeno, mas dizendo tanto.
Fico olhando aquele café e me pergunto: quantas coisas a gente também deixa assim, pela metade? Uma conversa que não aconteceu. Um abraço que não foi dado. Um "desculpa" engolido. Um sonho que a gente dobrou e guardou na gaveta porque "agora não dá".
O café não reclamou de ter sido esquecido. Só esfriou. E ficou ali, como muitas partes da gente que a gente abandona em silêncio. E quando vê, o tempo passou > e o que ficou gelado, já nem serve mais pra aquecer.
Tem dias em que eu me sinto assim também: nem quente, nem fria. Só morna. Nem coragem de ir, nem força pra ficar. Só estou. Como o café que já foi promessa de despertar, mas agora é só sobra.
A vida, às vezes, parece cheia de restos mornos. Gente que amamos pela metade. Decisões que adiamos. Palavras que calamos. E como o café, essas coisas vão perdendo o calor, ficando ali no canto, até que não sirvam mais pra nada > só pra lembrar que o tempo passou.
Mas talvez esse restinho de café tenha um recado: não é preciso transbordar, mas também não dá pra viver sempre morna. Que a gente seja quente ao menos por dentro. Que tenha coragem de dizer, de fazer, de sentir.
Porque café esquecido ainda dá um susto. Mas o que a gente esquece em nós mesmos... isso sim dói.
E se quiser, senta aqui comigo. Te sirvo uma xícara e a gente proseia.
Me conta: teu viver hoje tá quente, morno ou frio?
crônica poética ou até mesmo prosa poética com alma de crônica.