ESTRANHAS COINCIDÊNCIAS

Nunca tinha parado para pensar que os ensaios iniciais para a vida laboral têm seu ponta pé inicial ainda na educação infantil. Ali começa a adaptação para um futuro ainda muito distante.

O próximo patamar dessa história quase sem fim é o antigo primário, ali você vai ficar por meio período praticamente sentado, agora já com algumas exigências, pois acabou a moleza, você passará por avaliações mensais, exigindo dedicação em classe, e claro, um reforço no estudo das matérias em casa.

Lá na década de 60, depois de concluído os quatro anos de primário acontecia o primeiro gargalo da educação, o denominado concurso de admissão. Nesse momento, começava efetivamente a primeira separação do joio do trigo. Ser admitido em colégios com mais prestígio exigia boa preparação anterior, ou a necessidade de apelar para algum cursinho, isso mesmo, já se vivenciava uma espécie de vestibular precoce para colégios de ponta no ensino público.

Na iniciativa privada tudo era mais maleável, afinal instituições de ensino já começavam a encarar alunos como clientes, onde vale aquela máxima de que: “cliente tem sempre razão”.

Interessante que a transposição para o ensino médio, então denominado clássico para carreiras sociais, científico para área de exatas e a turma que iria enveredar pelo campo da saúde.

Pensando na relação com o campo laboral, a cada novo ano vencido, cresciam obrigações e uso do tempo, que passava a ser quase integralmente dedicado ao estudo, na preparação para encarar um expediente de oito horas diárias, afinal boa parcela dos jovens encerrava nesse momento sua vida acadêmica.

Enfim, agora viria a prova de fogo para quem pretendesse ir mais longe na carreira acadêmica, e de tabela, se inserir num patamar mais seletivo no mercado de trabalho.

Agora, nesse último ano do colegial se viveria uma experiência única, a dedicação exclusiva ao estudo, nem mesmo respeitando finais de semana ou férias do meio do ano, sabe aquela história da “ideia fixa”, agora levada literalmente a cabo.

Nesse momento o funil se estreitava ainda mais, poucos conseguiriam sair do ensino médio direto para uma Universidade, ênfase para as instituições públicas, que naquela época dispunham de corpo docente mais qualificado, o que muitas vezes levava alunos a realizarem algumas tentativas antes de ingressarem na universidade.

Conseguir ser admitido no ensino superior não encerrava a história, agora o nível de exigência só crescerá, principalmente nos dois primeiros anos letivos, com ampla variedade de cadeiras básicas da futura profissão.

O período acadêmico permite variado tempo de permanência nos bancos escolares, que mais tarde definirão como será sua inserção no mercado de trabalho.

Já o sistema penal, diferente do mercado de trabalho, tem penas de acordo com a gravidade do crime. Por outro lado, a legislação trabalhista não diferencia o tempo de permanência para cumprir sua legislação, independente do tempo de formação, uma única exceção foi aberta para o sexo feminino, sua pena, ou melhor, seu tempo de serviço obrigatório de 30 anos, sofreu um corte de 5 anos em relação ao dos homens.

Apenas um limitado número de profissões conseguiu reduzir o tempo de serviço.

Por outro lado, quando o estado percebeu que crescia a esperança de vida da população, e teria que arcar por mais tempo com o pagamento das aposentadorias, resolveu unilateralmente incluir uma nova variável no cálculo, ou seja, independente de ter cumprido a legislação, agora era exigida uma idade mínima, que passaria a crescer anualmente.

Aqui vale lembrar, que durante muito tempo, a previdência praticamente só arrecadava, pois a expectativa de vida da população, principalmente entre a parcela mais carente, muitas vezes vinha a óbito, antes mesmo de exercer o direito à aposentadoria.

Para quem teve a infelicidade de inserção no mercado em função que nunca lhe agradou, esse tempo de trabalho pode soar mesmo como uma pena, aliás, bem longa, e sem dispor do recurso de redução ou evolução da pena, para um sistema menos rigoroso.

Outra coincidência em comum para ambas situações trata-se da ausência de preparação para a nova fase da vida, que se caracteriza pelos opostos. Enquanto o trabalhador será mensalmente remunerado para fazer o que bem quiser, em contrapartida a pessoa que esteve presa e não precisou trabalhar, vai ganhar a liberdade, entretanto precisará encarar o mercado de trabalho para sobreviver, ainda carregando o peso inerente de quem cumpriu férias numa colônia penal.

Essas são coincidências que todos de alguma forma vamos esbarrar pela vida.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 23/04/2025
Código do texto: T8316240
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.