A Importância de Ser Feio, Fraco e Burro

 


 

Não, não contém ironia. Há muita desigualdade social entre os homens, mas essa não é a principal. As desigualdades de talento, elegância, educação, beleza física e inteligência são tão grandes quanto – ou talvez até maiores.

 

Mas há um valor oculto em não nascer com todas as benesses. Rico, bonito e forte são atributos que, se dados de bandeja, podem enfraquecer o espírito. Aquele que conquista sua riqueza financeira e espiritual, sua beleza, talento e inteligência na raça, transforma sua jornada em algo valioso.

 


 

O Poder do Underdog

Ser um underdog é um handicap apenas para os fracos de alma. Para quem tem olhar de tigre, isso é combustível. Quem recebe tudo de mão beijada tende a jogar a vida no modo fácil, se acomodar e, muitas vezes, sucumbir à tristeza e à depressão. É o retrato de Dorian Gray: o que parece belo por fora pode apodrecer por dentro.

 

Já o que nasceu burro, feio e fraco, mas se tornou atraente, inteligente e elegante, é bonito não só no corpo, mas na alma. É bonito pelo intelecto. O corpo e a elegância são apenas spoilers do conteúdo.

 


 

A Força dos Estereótipos

Essa é a importância dos estereótipos e dos valores bem definidos. Quanto mais constantes e fiéis aos nossos valores, mais previsíveis nos tornamos – no bom sentido. As pessoas sabem o que esperar de nós, confiam em nossas palavras e ações.

 

A fidelidade a si mesmo é mais importante que a fidelidade aos outros. Ser confiável é ser fiel ao que se é, não àquilo que se deseja parecer. Quem fala uma coisa e faz outra, além de imprevisível, é mal caráter.

 


 

Filosofia da Aparência

O estereótipo também protege: permite prever o comportamento com base na aparência. Mas há exceções. Como os filósofos cínicos: Diógenes, por exemplo, contradizia toda aparência com seu discurso radical e provocador.

 

Inspirou até o Chaves, aquele que entrava no barril. Um dos exercícios dos cínicos era andar com um peixe morto numa coleira, como se fosse cachorro. Era um treino para o olhar, para suportar o julgamento alheio. Quanto mais julgados, mais casca criamos. Mais resiliente se torna o espírito.

 


 

Diógenes e Alexandre: o Confronto

Essa sabedoria é refletida quando Alexandre, o Grande, encontra Diógenes e se incomoda com o filósofo que bloqueava seu caminho.

 

— Quem é esse maltrapilho que obstrui o caminho de Alexandre, o conquistador da Terra? — indagou.

 

Diógenes, sem pestanejar, respondeu:

 

— Por acaso Alexandre reina também sobre o Sol? Tem poder sobre a luz?

 

— Não. — admitiu Alexandre.

 

— Então, afaste-se. Você está fazendo sombra no meu sol.

 

Admirado com a resposta, Alexandre proclamou:

 

— Se eu não fosse Alexandre, gostaria de ser Diógenes.

 


 

O Verdadeiro Mérito

Essa resposta revela humildade, mas também consciência. Alexandre sabe que, se não fosse ele mesmo – privilegiado, aristocrata, forte e instruído por Aristóteles – gostaria de ser aquele que conquistou tudo sem nada. Gostaria de ser o underdog vitorioso.

 

Esse episódio resume toda a força de vontade que podemos extrair do fato de sermos pobres, feios, fracos ou burros. A vida nos dá circunstâncias, mas nós podemos transformá-las com espírito, ética, coragem e trabalho.