Abraços

Abraços

Abraço; um substantivo comum que não tem nada de comum, um substantivo abstrato que muitas vezes é tão concreto, tão subjetivo e tão comum na nossa sociedade, não sei em outras, dizem que nos Estados Unidos da América ele, apesar de continuar a ser comum, não é tão comum e nem tão bem visto. Graças a Deus por eu ser brasileiro.

Aqui temos vários tipos de abraços, os longos que parecem curtos de tanta vontade que temos de continuar nesse enlace, outros em que o tempo parece se arrastar longa e demoradamente por cima de um braseiro, apesar de não demorar um segundo, existem tantos tipos de abraços que eu poderia escrever laudas e laudas e não falaria sobre todos. Devo aqui ressaltar que não tenho a intenção de falar sobre todos os tipos de abraços, mas só daqueles que para mim são especiais, como os de mães, os de pais, os de filhos e os de irmãos. É claro que existem de amigos, colegas, conhecidos entres outros, confesso que no momento não me interessa falar sobre eles.

Vocês devem estar se perguntando o porquê escolhi esse tema para falar. Então, isso ocorreu por causa de uma conversa que tive com a minha filha, ela me perguntou, se quando eu era pequeno, costumava abraçar a minha mãe, ela sempre me faz perguntas desse tipo e sempre tento responder com a maior sinceridade que os oitos anos dela permitem que seja. Respondi que sim e essa pergunta me transportou a um outro tempo, onde abraços tinham um quê todo especial.

Um abraço de mãe envolve o mundo em um lugar só, é um abraço tão forte, tão seguro, tão doce e delicado que fica difícil de traduzi-lo em palavras, talvez para mim, para outros não sei. Esse traz em si tudo de belo e bom que existe no mundo. Quando você está machucado, esse é o melhor lugar para encontrar a cura, não digo que ele seja perfeito, não é, mas chega bem perto de ser, não sei se a todos, mas a mim lembra o útero, pois, é quentinho, seguro e protetor. Quando abraçava a minha mãe, sentia-me como de novo no ventre.

Um abraço de pai é como um escudo de batalha onde as lanças se quebram, antes de te acertar, ele é duro como o aço, forte como o titânio e envolvente como um campo de força. A sua função é proteger e isso ele faz muito bem, pois, esse é o seu papel, mesmo que esteja rachado, velho e quase sem liga para se proteger. Mas ele não é confortável, como uma arma de guerra ele serve ao seu propósito e esse não é ser confortável. Nenhuma arma de guerra o é. Ele é metálico, nada metálico é confortável, mas também é curativo, do jeito dele é verdade. Quando abraço a minha filha, quero protegê-la do mundo, meus braços são escudos que repelem qualquer ameaça, mesmo rachado um escudo é sempre um escudo.

Um abraço de filho, não um, mas vários, pois filhos têm vários abraços, são outrora como uma máquina do tempo, pois, quando te abraçam, transportam-te para um lugar ou um tempo mais feliz, outras vezes são como nuvens de algodão de tão macios que são, em outras são como rosa perfumadas, mas cheios de espinhos, se você apertar, machuca. Filhos têm um abraço para cada hora, lugar e situação. Quando eles estão apressados ou querendo fazer outras coisas os seus abraços são repelentes, pois, mal te abraçam já querem se livrar desse enlace para fazerem aquilo que querem e outras vezes parecem querer te reter em seus bracinhos para sempre. Esses também são os abraços da minha filha, quando quer brincar me abraça já querendo se livrar para correr para os seus folguedos. Em outros instantes, parece querer me reter para sempre naquela posição.

Abraços de irmãos são escudos, lanças e muitas vezes são espinhos, esses abraços muitas vezes fecham-se se em uma formação de combate como as antigas legiões romanas em suas colunas defensivas de batalhas para proteger o abraçado, em outras ocasiões se transformam em uma estruturação de ataque que aniquilarão qualquer um que ouse atacar aquele que está protegido por essas armas. Em outras são como espinhos que cravam e rasgam as carnes dos seus enlaçados. Esses são os abraços dos irmãos, já tive a sorte e o azar de conhecer todos eles. Cada um me traz uma memória diferente.

Como disse no começo e mostrei ao longo do texto, abraço nunca é um substantivo comum, apesar de o ser e nem tão abstrato como a gramática tradicional brasileira o classifica, pois, cada um tem o seu jeito peculiar e pode ser desenhado de tantas formas como vimos acima, hoje sinto falta desses abraços, pois, o tempo me trouxe muitas coisas, mas me tirou outras tantas, dessas tantas foram os abraços sendo perdidos no tempo, um a um se foram, mas ganhei um outros novos que na maioria do tempo são como nuvens de tão macios. Sinto falta dos antigos.

O Motoboy
Enviado por O Motoboy em 16/04/2025
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