O CHINELO VELHO E O AMOR ESQUECIDO
Num canto escuro do armário, repousava um chinelo velho. Seu couro estava gasto, suas cores desbotadas pelo sol, e suas solas, finas de tanto caminhar. Ele já percorrera estradas poeirentas, atravessara riachos, escalara colinas e dançara sob a chuva. Mas agora, ali estava, esquecido, esperando apenas que o tempo passasse.
De vez em quando, alguém abria o armário e olhava para ele, como se tentasse decidir se ainda valia a pena guardá-lo.
O chinelo, porém, não reclamava. Sabia que havia cumprido sua jornada com dedicação. E, no silêncio daquela espera, mantinha uma pequena esperança: talvez, um dia, voltassem a calçá-lo, nem que fosse para uma última caminhada sob o luar.
Assim também é o amor que um dia ardeu com paixão, mas hoje jaz num canto remoto do coração. Ele já sorriu, já chorou, já se entregou sem medo. Andou quilômetros de abraços, tropeçou em desentendimentos, mas nunca deixou de amar. Agora, abandonado, espera. Não com amargura, mas com a quieta certeza de que o verdadeiro amor nunca se perde, apenas aguarda o momento certo para ser lembrado.
E se um dia o coração que o guarda resolver abrir-se novamente, talvez aquele amor, como o chinelo velho, descubra que ainda há estradas por percorrer—e que esperar, às vezes, é só outra forma de amar.