Entre Letras e Sonhos
Crônica: Entre Letras e Sonhos
Em meio a uma cidade que nunca para, onde os carros apitam e as vozes se entrelaçam numa dança frenética, há um pequeno refúgio que só eu conheço: meu cantinho de escrita. É um espaço modesto, um canto da sala onde a luz do sol invade pela janela, aquecendo minhas ideias e revelando os cantos empoeirados da imaginação. Eu sei que é apenas uma mesa, com uma caneta sempre à mão e um caderno que guarda não apenas palavras, mas sonhos e memórias que buscam vida.
Desde menina, escrever sempre foi meu jeito de falar ao mundo. Enquanto outras crianças se divertiam em brincadeiras no parque, eu me perdia em histórias que brotavam de um mundo interior vasto e curioso. As folhas em branco me chamavam, como se dissessem: "Aqui, você pode ser quem quiser." Era nesse espaço que eu me sentia livre, criando personagens que exploravam lugares imaginários, vivendo aventuras que eu apenas sonhava.
Agora, já adulta, essa paixão por escrever se transforma em um diálogo íntimo comigo mesma. As palavras, antes um refugio, tornaram-se uma necessidade. Às vezes, o dia exaustivo e as obrigações do mundo real tentam silenciar minha voz, mas a vontade de escrever grita mais alto. É como se cada letra tivesse o poder de libertar as inquietações que insistem em me habitar.
Nos dias mais cinzentos, quando as ideias parecem ficar presas e as páginas em branco se multiplicam, eu me lembro da importância de abraçar os bloqueios criativos. A escrita, com sua complexidade e beleza, não é um ato linear; é um processo cheio de reviravoltas. E eu, como uma mulher que trilha seu próprio caminho, aprendi a dançar com essa incerteza. O importante é continuar a jornada, mesmo que às vezes os passos sejam hesitantes.
Escrever é, para mim, também um ato de resistência. É a maneira que encontrei de dar voz a questões que afligem não só a mim, mas a muitas mulheres. Cada crônica, cada poema, é uma semente plantada num solo fértil de esperança. Espero que minhas palavras ecoem nas almas que as leem, que tragam à tona reflexões e emoções, que provoquem risos e lágrimas, e, principalmente, que criem conexões.
O tempo passa, a cidade continua em seu movimento incessante, mas meu cantinho de escrita permanece um santuário. Nos momentos de solidão ou de euforia, encontro inspiração nas pequenas coisas: no riso de uma amiga, no perfume das flores que aparecem na primavera, nos olhares curiosos das pessoas que cruzam meu caminhar. A vida é, indiscutivelmente, meu maior tema e minha maior fonte de inspiração.
E assim, entre linhas e parágrafos, sigo tecendo a minha história. Cada palavra é uma parte de mim que deixo no papel, uma forma de eternizar momentos que por vezes parecem efêmeros. Escrever é mais do que um ofício; é uma forma de existir, de falar ao mundo e, ao mesmo tempo, ouvir a mim mesma. E que assim continue: entre letras e sonhos, entre a realidade e a fantasia, sempre em busca de novas páginas a serem escritas.
EscritoraVeraSalbego