ESMOLA E CARIDADE: A SUTIL DIFERENÇA
A praça estava cheia naquela tarde. O sol, preguiçoso, se escondia entre as nuvens, e um vento fresco aliviava o calor do dia. Sentado em um banco, um homem bem vestido observava um senhor de barbas brancas e roupas puídas, que estendia a mão a quem passava. Alguns desviavam o olhar, outros apressavam o passo. Um jovem parou, remexeu no bolso e jogou uma moeda na palma envelhecida. Seguiu seu caminho sem trocar palavras, como se cumprisse uma obrigação.
— Mais uma esmola — murmurou o homem elegante, balançando a cabeça.
Ao seu lado, um senhor de olhar sereno, que acompanhava a cena em silêncio, sorriu levemente e disse:
— Isso não é caridade, sabe?
— Como assim? — perguntou o primeiro, curioso.
— Esmola é dar o que sobra, o que não faz falta. Muitas vezes, é um gesto automático, sem envolvimento. Já a caridade… ah, a caridade é outra coisa.
O homem elegante arqueou a sobrancelha, interessado. O senhor continuou:
— Caridade é dar de si mesmo, sem esperar reconhecimento. Não é apenas dar algo material, mas oferecer um pedaço do próprio coração. Um sorriso, um olhar de compreensão, um ouvido atento.
Ele fez uma pausa, olhando para o idoso que agora conversava com uma moça que lhe segurava as mãos.
— Veja aquela moça. Ela não deu dinheiro, mas ofereceu o que poucos dão: tempo e atenção. Está ouvindo a história dele, sem pressa. Isso é caridade.
O homem elegante ficou pensativo. Quantas vezes ele próprio havia jogado moedas sem olhar nos olhos de quem pedia? Quantas vezes havia confundido esmola com caridade?
No fundo, percebeu que a caridade não humilha, não pesa, não marca a superioridade de quem dá sobre quem recebe. Ela é um ato de amor, e amor não se mede em valores, mas em gestos.
Naquele dia, antes de se levantar, ele se aproximou do velho senhor, não para dar-lhe uma moeda, mas para perguntar-lhe o nome. E, pela primeira vez, viu aqueles olhos cansados se iluminarem de verdade.
Tião Neiva