O Silêncio que Grita

Há momentos em que as palavras, com toda sua força e suavidade, se tornam quase intangíveis. Elas se vestem de ironia, como um jogo disfarçado, e, noutras, de ternura, como se estivessem em busca de um afago que nunca se dá por completo. Deixam rastros que dançam ao vento, carregando consigo memórias que se perdem, mas que se tornam eternas, como folhas caídas ao sabor de uma estação.

E é curioso como as palavras não se tocam, não se ouvem da mesma forma que sentimos o mundo ao nosso redor. Elas se revelam aos olhos, como um segredo que, embora escondido, se faz entender pelo simples fato de existir. Quando as vemos, sabemos que há algo mais ali, algo que nos toca de maneira sutil. Elas não são ditas em voz alta, mas ressoam na alma com a suavidade de um suspiro, revelando o que muitas vezes permanece em silêncio, como se o próprio som da ausência estivesse dizendo algo.

E é no silêncio que as palavras se tornam mais poderosas. Elas se escondem nas entrelinhas, esperando o momento certo para aparecer. São como segredos que, por algum motivo, precisam ser guardados para que o peso de suas emoções não sobrecarregue o agora. Mas, quando o zíper da memória é aberto, é como se essas palavras se libertassem, desabrochando na folha em branco à nossa frente, deixando o vazio da página completamente preenchido. Elas se deleitam no espaço da escrita, rabiscando o que o coração insiste em expressar.

É como se o silêncio da página clamasse por esse alívio, como se o papel fosse um receptáculo esperando que a explosão de sentimentos seja derramada, sem reservas. E, na fragilidade dessas palavras que se soltam de nós, há uma cura silenciosa, uma libertação que só quem as deixa se manifestar conhece.

O silêncio, então, não é apenas ausência, mas uma força invisível que clama por ser ouvido. Ele grita, mas em sua calma. E, ao escrever, damos voz a esse grito que, por tantas vezes, só pode ser ouvido na quietude da alma.

Natal,08/03/2025