Entre Palavras é Silêncios
Crônica:
Entre Palavras e Silêncios
Em meio a um barulho ensurdecedor de ideias e teorias na Academia, as mulheres sempre se destacam como vozes de penetração sutil e firme. Não é à toa que nelas habita a complexidade da filosofia, como se fossem matizes sob uma luz do sol quase poética. A filosofia, que tradicionalmente foi escrita por mãos masculinas, agora reconhece as suavidades e cruezas da experiência feminina, aspectos que muitos, por muito tempo, ignoraram.
Um dia, enquanto folheava páginas amareladas de um livro sobre “As filósofas que mudaram o mundo”, deparei-me com o pensamento agudo de Hypatia de Alexandria, uma mulher que, no século IV, não se intimidou diante dos homens que reinaram sobre a sabedoria. Ela caminhava pelos corredores de mármore da Academia com a elegância de quem já havia aprendido a arte de questionar tudo, com um olhar que transparecia a certeza de que a racionalidade e a emoção podem coexistir. A mulher, em sua essência, é um ser plural.
Na sala de aula, a professora Isabella bebia do vinho denso da filosofia existencialista, enquanto suas alunas absorviam cada palavra proferida como se fossem feixes de luz em uma noite enluarada. O existencialismo, regido por pensadores como Sartre e Simone de Beauvoir, revelava nuances de um ser que não se limita a definições; ser mulher é ser crítica, ser questionadora, libertar-se das amarras da sociedade. Como Beauvoir bem disse: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. Essas meninas perceberam que a liberdade, sempre tão idealizada, é um ato de resistência.
Entre um debate e outro, surgiram as vozes de outras filósofas contemporâneas, como Judith Butler, que provocou reflexões sobre gênero e identidade. Os olhares eram atentos, como se ali se desenhasse um novo horizonte, onde a construção do ser se desdobra em camadas, onde a mulher não tem um único papel, mas é protagonista de uma sinfonia que varia em cada ato.
No dia seguinte, ao entrar na aula da professora Mariana, os semblantes mudaram. As alunas, após a intensa discussão anterior, se sentiam mais preparadas para explorar os espaços que lhes foram, durante tanto tempo, sonegados. Os silêncios que outrora preenchiam as discussões agora se tornavam fragmentos de coragem. Elas falavam, expunham suas verdades, trazendo à luz aquilo que muitos tentaram deixar nas sombras da indiferença.
A filosofia, portanto, não é apenas sobre razão. É sobre sentir, sobre a luta constante pela individualidade. As mulheres, com suas histórias entrelaçadas com os grandes pensadores, tornaram-se protagonistas de suas próprias narrativas. Cada crônica escrita, cada debate em fervor, é um testemunho de que a filosofia, em sua essência mais pura, é uma busca por compreensão e liberdade.
Assim, num universo onde palavras e silêncios dançam em harmonia, a mulher se ergue como um símbolo do questionamento. E que ressoe forte, nas páginas da história, que ela não é apenas a musa inspiradora; ela é, sim, a própria filosofia.
EscritoraVeraSalbego