A Teoria de Freud e as Princesas da Disney
Não obstante eu seja uma operadora do Direito apaixonada e realizada, no início da adolescência eu tinha uma ''queda'' pela Psicologia, razão pela qual naquela época eu vislumbrava cursar faculdade de Psicologia quando fosse prestar vestibular. Sim, da minha roda de amigas eu sempre fui e continuo sendo a conselheira, a que envia e escuta áudios longos no Whatsapp. Na verdade, as nossas conversas de Whatsapp muitas das vezes têm um efeito extensivo e se tornam podcasts. Enfim, por uma série de fatores no segundo ano do Ensino Médio, no auge dos meus 17 anos, eu substituí o sonho de ser uma psicóloga clínica por ser uma advogada militante e combativa. Mas eu não me desfaço do fato de que amo as teorias de Sigmund Freud, amo os seus estudos que têm por objeto a investigação do inconsciente. Muito me chama atenção a teoria da psicanálise que afirma que o que contribui fortemente para a formação da personalidade do adulto são os eventos que ocorrem na infância. Parando para pensar, é fácil correlacionar essa teoria com os acontecimentos do presente. Ela explica muito bem as nossas crenças e por que agimos e pensamos de determinada maneira. Numa das minhas sessões de terapia, cuja pauta era relações amorosas, eu me lembrei dessa reflexão e resolvi partilhá-la, associando às minhas crenças sobre o amor que por vezes tenho de empreender esforços para desconstruí-las ou reinventá-las. Até então, eu nunca havia parado para pensar que eu passei a adolescência acreditando que quando eu fosse amar, eu encontraria o príncipe encantado justamente também porque passei a infância fascinada pelos filmes das princesas da Disney. Até hoje eu me lembro facilmente do nome de cada uma delas: Cinderela, Aurora, Branca de Neve, Bela, e por aí vai (não sei nem dizer qual princesa eu gostava mais, pois eu amava todas as suas narrativas). Já deixo claro que não quero problematizar tais filmes, pois eu amo e acho que a arte deve desempenhar esse papel de nos fazer fugir da realidade, ou ao menos tornar a realidade menos feia nos contos e nos romances. A minha intenção é apenas de constatar que assistir a esses filmes repetidamente levam certas mensagens para o subconsciente de uma criança do sexo feminino, de um ser em desenvolvimento, gerando crenças inconscientes. Todas as princesas da Disney têm aparências físicas diferentes, vivem em tempos diferentes, sociedades diferentes, e sobretudo possuem personalidades diferentes, assim como as princesas da vida real, mas o que todas têm em comum é que só vivem o final feliz quando encontram o príncipe encantado. A Branca de Neve só desperta do sono da morte oriunda da maçã envenenada quando recebe o beijo do príncipe. A Bela Adormecida (Aurora) também só acorda quando é beijada por um príncipe. A Cinderela só se livra das mãos da madrasta e das irmãs malvadas, vira princesa de fato, calça um sapato de cristal e se muda para um castelo quando conhece um príncipe encantado. Talvez seja por isso que muitas de nós mulheres fomos meninas que crescemos com a terrível expectativa de que o ápice da nossa felicidade estaria em encontrar alguém que seja o amor da nossa vida. Que o final feliz só é feliz quando tem um príncipe na parada. É claro que o amor romântico existe e é real, porém essas ideias armadas pela sociedade patriarcal para nós através da cultura e da indústria cinematográfica às vezes fazem mal e tornam as relações amorosas da vida real muito frustrantes. Chega a ser tóxico, parando para pensar. A mulher fica suscetível a pressões tanto internas quanto externas. Nos filmes da Disney o homem está sempre estampado na figura de um cavalheiro, provedor, lindo, fiel, é o príncipe montado no cavalo branco (infelizmente os de hoje estão mais para príncipe do cavalo manco). Na vida real se descobre que existem inúmeros que são infieis, agressivos, mentirosos, ''mulherengos'', e muito feios por dentro. Aí a gente acaba sendo obrigada a se despir da ingenuidade de menina que sonhava em viver o amor dos filmes das princesas da Disney para sobreviver. Para sobreviver, desenvolvemos mecanismos de defesa. Em resumo, o meu brilhante terapeuta disse que não há problema em apresentar esses filmes para crianças, desde que elas sejam alertadas de que aquilo é só um desenho. Eu concordo com ele. Só acho que também vale a crítica para que o amor seja a consequência de já ser muito feliz sozinho, e não a causa de tristeza ou de felicidade. Ah, quem me dera a vida fosse o filme da Disney.
''Somos todos iludidos! A lucidez é para poucos! O amor é tudo isso e mais um pouco!''