OS LIMITES DA LINGUAGEM NA COMPREENSÃO DO TODO
Um dos problemas que leva as pessoas na direção contrária à fé em Deus é o limite da linguagem — incapaz de apreender o todo. A mente humana trabalha com imagens concretas e, quando isso não é possível, recorre a aproximações: compara duas ou mais imagens na tentativa de iluminar características do objeto desejado. Assim nascem as figuras de linguagem, como a metáfora e o símile. Esses recursos funcionam como empréstimos de significado: utilizamos dois elementos aparentemente díspares para, a partir de uma semelhança essencial, revelar um terceiro sentido — algo que já existia em potência, mas permanecia latente e invisível.
O problema com a ideia de Deus reside justamente aqui: o Pai Celestial é a própria essência do Ser, ou seja, Ele não apenas sustenta a realidade, mas também a transcende. Ele é a existência em si e, ao mesmo tempo, um Ser independente do homem, que ainda assim sustenta a vida humana. Esse paradoxo — ser simultaneamente imanente e transcendente — desafia a nossa mente, limitada pelas categorias de espaço e tempo. A linguagem, por mais elaborada que seja, não consegue abarcar plenamente a magnitude divina, deixando-nos diante do mistério.
O nome, embora seja um traço essencial da personalidade, inevitavelmente nos restringe. Ao ouvirmos o nome de alguém, evocamos uma série de conceitos, pré-concebidos e redutores, que jamais poderiam traduzir a vastidão do outro — seja em suas virtudes ou em suas falhas. Por isso, em encontros diretos com os seus, Deus apresenta-se apenas como "Eu sou o que Sou". A escolha dessa expressão transcende o nome como um rótulo e afirma a plenitude do Ser em sua totalidade, sem fragmentos que distorçam ou limitem sua natureza.
Mesmo assim, a palavra "Deus" carrega consigo as limitações inerentes à linguagem humana, produzindo em nós imagens e sensações que, inevitavelmente, reduzem o Criador a uma caricatura. O que é inabarcável torna-se filtrado pelas molduras do nosso entendimento — e o mistério do Ser escapa novamente, deixando-nos diante de sua vastidão inacessível.
Reside aí, nesse enorme paradoxo — entre o mistério que nos escapa e o esforço de apreendê-lo através da linguagem, expressão da nossa capacidade de inteligir — os grandes dilemas que afastam tantas pessoas de uma relação direta com Deus. Para alguns, a barreira se manifesta em uma fé imatura, sustentada por um entusiasmo ilusório na própria salvação, ou seja, baseada somente na recompensa, que transforma o zelo espiritual em julgamento incessante, com o dedo sempre em riste. Para outros, surge como uma autoafirmação egóica da matéria, uma tentativa de preencher o vazio com o tangível, negando o transcendente.
Essa tensão, que oscila entre o desejo de compreensão e as limitações da condição humana, reflete o drama universal da existência: a busca por sentido em um universo que resiste a ser plenamente decifrado.