VISÃO DO FUTURO
Quem já acumulou longa experiência de vida deve lembrar um seriado que passava na TV chamado túnel do tempo. Nessa ficção supostamente científica, protagonistas viviam se metendo literalmente em “furadas históricas”, esse bendito túnel os conduzia a momentos cruciais da história mundial, tanto podia ser em meio a Queda da Bastilha, no front da guerra civil americana, ou mesmo em alguma cidade prestes a ser invadida e destruída na 2ª Grande Guerra.
Bom, foi mais ou menos assim a situação que passo a descrever, não pelo lado negativo, mas por permitir nesse exato momento vivenciar o que pode vir a ser a nova realidade urbana daqui a cinquenta anos.
Demógrafos e estatísticos de plantão adoram projetar como estará a distribuição etária da população, para um período que fatalmente não estarão aqui para confirmar suas previsões, sejam elas assertivas ou completamente sem fundamento.
Mas vamos aos fatos, esses sim irrefutáveis, depois de pouco mais de três horas de estrada, na realidade com trechos urbanos até demais, enfim desembarquei em Conservatória, distrito de Valença/RJ.
No final de novembro, a cidade sempre ganha reforço populacional adicional, através do festival de corais, que atrai gente de todo o estado, para apresentações que começam à tarde, se prolongando noite adentro, nas sextas-feiras e sábados.
Essa localidade tem sua economia calcada em dois fortes pilares, a agropecuária e o turismo geriátrico com fundo musical nostálgico.
Para um observador atento, Conservatória, embora contando aproximadamente com sete mil moradores, você dificilmente os encontrará, tanto fora da cidade, como dando suporte ao turismo. Nas ruas, em eventos internos, praças, restaurantes, hotéis e pousadas o público é essencialmente idoso.
Ao contrário do que se poderia esperar, idosos aqui, são ativos e se deslocam em grupos, jogando por água abaixo o estereótipo que vincula a esse segmento da população a solidão e baixa mobilidade.
É claro, que para ter condição de se deslocar até aqui, esse cidadão precisa dispor de padrão financeiro e gozar de boa saúde, não é prá menos, que a parcela feminina de turistas dá goleada nos homens, aliás, como já vem acontecendo cotidianamente em nossas capitais e cidades de maior porte.
O comércio local rapidamente se adaptou às características das frequentadoras, e isso fica patente quando você repara que dificilmente verá uma senhora com as mãos livres, sempre comprará uma lembrança para algum parente.
Á noite, a música toma conta do ar, não importa onde você esteja, e a animação só vai diminuir apenas depois da tradicional serenata, que começa seus acordes a partir das 23 horas, isso lá é hora de velhinhos ainda estarem na rua, isso faz parte da magia de Conservatória.
Espero que autoridades locais tomem a atitude de tornar a cidade inclusiva, melhorando a qualidade do piso das calçadas, criando também rampas para cadeirantes e pessoas com baixa visão, afinal até entre eles, também a esperança de vida foi acrescida de anos.
Conservatória, como algumas poucas cidades, conseguiu encontrar seu objeto, e assim consegue gerar renda e emprego para seus moradores.