O QUE MORRERÁ QUANDO EU REVIVER?

Passo e fico: como o universo! (Fernando Pessoa)

O que morrerá quando eu morrer? - Nada! Pois os perenes átomos de meu corpo, que conformam meu vivo hólon: pensam (inteligência) ; sentem; e agem, quando unidos e interdependentes em vida, e espalhados na biosfera após a morte, ficando então disponíveis para novos seres vivos.

Os átomos, as substâncias químicas e/ou biológicas, as células, os órgãos, o corpo natural não são perpétuos. O indivíduo vivo das espécies - produto do sexo meiósico, com reprodução sexuada, ou outra forma de sexo que possibilite aprimoramento nos descendentes - inerem apoptose, isto é, são programados para morrer. O indivíduo, que foi "top de linha" no seu estágio evolutivo, se não morrer e ressurgir pulverizado em outros indivíduos, impede melhorias nos descendentes. De tal jeito que a próxima geração supera e mantém com melhorias a anterior.

E isso melhora, dá continuidade e adapta nos ecossistemas, os genes de todos os seres vivos na cega natureza, e esta, com exteligência, integra sabiamente o abiótico com o biótico (objeto e sujeito) na biosfera, induzindo que os indivíduos das espécies, não existem, e sim coexistem, nos simpoiéticos ecossistemas dotados de equilíbrio dinâmico e harmonia. Isso tudo no planeta vivo Terra, que é um hólon dentro do sistema solar, que é hólon na Via Láctea, que é hólon no universo, que é...

Essas derivas na natureza, para chegar em senciência, no caso da humanidade, ela sabe que sabe, é fruto de 15 bilhões de anos de envolvimento. Não sei se sou arrogante em admitir que o Homo sapiens sapiens é a cúspide do pensar, do sentir e do agir, pois temos muito a compreender do micro e do macro, não sei se sou pequeno ou grande, em relação a quê?

O que muito intriga é a causa e o momento em que átomos dão startup no ser vivo; será no corpo masculino com os espermas, que com metade da carga genética têm movimento o objetivo, ou depois da fecundação que leva ao sexo meiótico e conformação do ente que na maturidade vão produzir espermas e óvulos e prosseguir? É notório que o criacionismo, teogonia/teocentrismo, leigamente explicaram essa visceral preocupação, mas com o novo Eros, isto é, com a percepção da evolução e desenvolvimento da ciência; só se sabe que muito se tem a saber. A natureza está há anos-luz à frente de nosso estágio de compreensão, conhecimento e saber. A vida é atemporal e sem pressa. Apressado é o homo econômicus que quer ser proprietário da natureza, se porta como seu designer e transloucadamente, por ter razão/senciência (pensar, sentir e querer), quer dar propósito à natureza e a todos e tudo.

Os genes parecem insatisfeitos com o produto do saber do "carbono" (da inteligência dos homens), e já ampliam via criaturas, para manejo rápido do que está na noosfera, o uso do silício e do quantum, estes que até hoje só pensam e agem, mas "ainda" não sentem. Não deve parar por aí...

A natureza arquiva, os memes no coletivo dos sencientes, pensamentos e insights de conhecimento e sabedoria acolhidos no conceito de noosfera. O que se acumulou de pensamento está na noosfera, e hoje também, em suas máquinas, não é definitivo, e sempre deve ser revisitado e aprimorado, pois ideias são tal flecha de Prigogine lançada sem propósito, mas no rumo da vida. A cega natureza só agrega o que promove vida. E vida é a interação e iteração dos sujeitos e objetos na biosfera que se replicam, aprimorando ciclos de viver, morrer e evoluir.

A startup e morte do objeto que vira sujeito, e volta a ser objeto/átomo, rendeu e renderá por um longo tempo, ideias subjetivas pelo medo da morte, ideias como alma, espírito, fé, deuses... ideias vindas desde Maat, orfismo, pré-socráticos, Buda, socráticos (Fédon) Cristo (escolástica), Maomé, renascimento, iluminismo (razão/mente)... Devem ser revisitados, haja vista, a "era" centáurica (não dualismo entre objeto/sujeito com a razão/antropocentrismo introjetando outridade). Neste estágio da noosfera, depurada pelos genes, deve-se integrar mente/sujeito com o corpo/objeto, ou a inteligência com exteligência, ou biosfera com a noosfera, pois são complementares.

É o caso de nós, espécie homo, termos que integrar o Homo sapiens sapiens com o homo econômicus e eliminar imediatamente a reificação da natureza, assegurando a homeostase do planeta. O sucesso do homo econômicus é tal que o número de indivíduos, ou melhor, de consumidores, ultrapassa o limite de resiliência do planeta, levando inexoravelmente à sexta extinção em massa da "nossa" espécie dominante, neste planeta que lembra o mito de Gaia, na hipótese da Terra viva.

O que ficará quando eu morrer? Somente os genes em meus descendentes, e algum creado meme que contribuísse para a qualidade da vida, na sábia noosfera, na aconchegante biosfera...

O que irá para o túmulo quando eu morrer? Meu sinéquico corpo e mente!

O que esperar do Homo sapiens sapiens? Que o homem, com outridade, supere logo o antropocentrismo econômicus e se integre à natureza, para que tudo viva e evolua. Como Michael Murphy frequentemente comenta: o progresso se faz a cada funeral!

Cesar de Paula
Enviado por Cesar de Paula em 01/12/2024
Reeditado em 03/12/2024
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