Reflexões na sala de espera
Estou aqui na sala de espera aguardando para fazer uma tomografia de abdômen. Já tirei sangue, coletei urina (no potinho) e, depois do mal estar de ter entregue o copinho quente para a recepcionista, só resta aguardar ser chamado.
A sala não está lotada. Lembro-me de uma ocasião em que, quando criança e com dor de ouvido, minha mãe levou-me ao médico. Devo ter ficado umas 4 horas aguardando minha consulta. Foi uma eternidade. Para uma criança, a sala de espera de um consultório médico é terrível, pois ela não sabe o que acontecerá, porém tem certeza de que será um sofrimento.
Em minha frente estava uma senhora que teve problema na C4 e C5 e não parava de falar. Contou a sua história médica pregressa para umas três pessoas. A cada momento que esvaziava a cadeira e sentava outra pessoa ela recontava , sempre um pouco mais dramática e entusiasmada como se aquela doença fosse um patrimônio seu.
A medicina evoluiu muito. Nosso corpo, hoje, é um livro aberto , acessível à quantidade de máquinas e equipamentos que nos vasculham minuciosamente por dentro e por fora , buscando encontrar a falha , a minúscula alteração , o desequilíbrio escondido entre as células , correndo por nossas veia e artérias como um invasor inconveniente que encontra o ambiente propício para seu desenvolvimento , enfim o pequeno erro de configuração em nosso organismo que nos traz tantos problemas.
O site da OMS afirma que existem de 6 a 8 mil doenças que podem afetar nosso bem estar. A cada segundo somos atacados por uma infinidade de microorganismos , infecções , processos inflamatórios , necroses , degenerações. Desde o momento em que nascemos, a natureza quer nos matar. Os mesmos elementos que nos criam podem provocar nosso fim.
Inventaram os remédios , reguladores que mantêm o equilíbrio de nossas funções biológicas , substituindo e completando aquelas substâncias que já não funcionam mais em nosso castigado organismo. Foi graças a eles que hoje podemos alcançar idades avançadas como 80 , 90 e até mais de um século de vida , diferentemente de épocas passadas em que a expectativa de vida beirava a casa dos 40 anos e não por outro motivo se casava tão cedo, aos 30 anos já eramos vovôs e vovós.
Hoje vivemos muito tempo , amanhã quem sabe viveremos mais. Essa busca incansável pela longevidade nos torna dependentes de químicos , remédios e poções que nos darão uma vida mais longa.
Que façamos esse anos a mais valerem a pena.