SOMOS UM

 

 

O mundo gira e deixa muita gente tonta.

E eu, que não sou gente, entonteço também.

Na rotação da terra, todos se agarram a qualquer coisa

Que lhes deem alguma sensação de equilíbrio.

Muitos se sentem seguros, seguros de suas convicções; de suas situações financeiras, aparentemente estáveis; seguros de si, inseguros dos outros; seguros de quem são e inseguros do que não conseguiram ser;  seguros à luz do dia, e inseguros quando a noite, na escuridão, tece de negro, perigos irreais que por serem invisíveis, não são detectáveis e por serem indetectáveis, assombram feito brancos fantasmas que provocam medo, mas não se sabe de quê.

A Terra gira, em sentido contrário, alheio ao sentido da vida que se perdeu no pensamento, quando tantas cabeças rolaram confundindo o objetivo da existência.

E eu, que não existo, coloco-me de cabeça para baixo para consertar o mundo e a hamonia se estabelece quando tudo volta ao seu devido lugar.

Quem sou ?  Não sei...

Perdi minha identidade e meu CPF; e de tempos em tempos, um cadastro do governo, pede-me prova de vida.

Reconheço meu nome no inverso de quem sou.

A cada ano, no mês de agosto, quando os loucos ocupam seus primeiros berços, eu descompleto meu tempo de vida.

E rejuvenesço cada vez mais até que eu me transforme num feto a ser plantado no útero da Terra.

E na sequência, de dezembro a janeiro, a cada existência, haverei de alcançar o tempo de minhas origens.

Quando esse tempo chegar, haverei de presenciar a origem do Universo e em co-criação com o Criador, haverei de reinventar-me, criando uma realidade que se adeque ao mundo onde  “seremos nós” !

 

 

Yelris Sevla

Goiás, 21 de novembro de 2024.