A CAVERNA

 

 

Quando saio da caverna onde me escondo (e quando saio é pra caçar comida na floresta do supermercado), o mesmo que eu fazia nos velhos tempos; percebo que ainda há dinossauros gigantescos que me assombram e ameaçam minha existência, mas agora eles vivem dentro e não fora de mim.

Olho com estranheza a realidade onde os outros parecem mergulhados em superficialidades e mesmices, evidenciando da vida, o seu aspecto mais rude e concreto... Tão concreto que se confunde com as calçadas e parece moldar a cabeça dos transeuntes, mas não, o pensamento.

Sinto-me estranha... Como se não pertencesse a esse lugar... Como se não pertencesse a lugar nenhum.

Sempre só... Praticamente isolada de tudo e de todos... Feito troglodita, assumo o meu rótulo de “estranha” , mas é no conforto e silêncio da caverna que encontro luz !

Há um lago profundo no interior das grutas da alma, onde em mergulhos profundos, passo horas decifrando segredos e colhendo pérolas de meus degredos.

Alimento-me de pérolas, cultivadas na ostra em que me transformei; somadas às pérolas de ostras alheias no incessante ofício de escafandrista.

Sorvo baldes de interrogações, na insaciável sede de respostas, enquanto verto, embriagada, as taças da ilusão.

E na caverna, quando durmo, é que desperto entre os fantasmas semelhantes a quem sou.

 

Yelris Sevla

Goiás, 21 de novembro de 2024.