MENDIGOS DO TEMPO
Vivemos como mendigos psicológicos, caminhando pelas ruas da memória com mãos estendidas, implorando por migalhas de momentos que já não são nossos. Passado e presente se entrelaçam numa dança tênue, enquanto o futuro, esse viajante desconhecido, permanece um tema evitado, como se ao ignorá-lo pudéssemos adiar suas surpresas.
Nos encontros de velhos amigos, o tempo parece um fio partido, onde cada conversa é uma tentativa de costurar novamente os retalhos do que foi. Fala-se do passado com entusiasmo, do presente com pressa, e do futuro... quase nunca. Vivemos em um mundo marcado pelo compasso do relógio, onde o tempo é um bem precioso e, ironicamente, frequentemente desperdiçado.
E ainda assim, há algo em nós que escapa a essa correnteza. Nosso "eu" divino, atemporal, observa em silêncio enquanto armazenamos as experiências como quem faz o download de uma vida inteira. É por isso que, às vezes, a saudade chega sem convite, como um perfume familiar que o vento traz. Não é o presente que sentimos, mas as marcas indeléveis do que já fomos, do que vivemos e, talvez, do que ainda ansiamos viver.
Curioso, não é? Ninguém sente saudade do que não viveu. Ou será que sente? Essa nostalgia inexplicável, que brota sem raiz aparente, pode ser a manifestação de vidas que nos precederam. Fragmentados em inúmeras existências, carregamos em nosso espírito as memórias de cada uma, como se fossemos bibliotecas ambulantes, repletas de livros escritos e inacabados.
Entender essa fragmentação é essencial para nos libertarmos do ciclo de mendicância emocional. Se somos partes de um todo maior, então o passado não é prisão, mas um espelho; o presente, não um fardo, mas um convite; e o futuro, não um temor, mas um espaço aberto onde novas histórias podem nascer.
Somos viajantes do tempo, mas talvez o segredo seja sermos também construtores. Construir no agora, com a argamassa da memória e a ousadia de um olhar para frente, nos permitindo habitar o presente sem nos perder nos labirintos do ontem. Assim, talvez, deixemos de mendigar pedaços e passemos a viver o todo.
Tião Neiva