“Antes eu sonhava, agora, já não durmo. Quando foi que competimos pela primeira vez? O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe. Não entendo terrorismo; falávamos de amizade” (1)
Esse trecho de "Sereníssima", música de Legião Urbana, resume bem o meu sentimento dos últimos meses. “Queria ser como os outros e rir das desgraças da vida, ou fingir estar tudo bem” (2). Renato Russo, como nenhum outro, ouso afirmar, conseguiu colocar em palavras abstrações e subjetividades complexas que vão muito além de canções juvenis e nos traduzem em qualquer época da vida.
Há meses, quiçá anos, tenho me deparado com situações em que amizades se desfazem porque o outro vive em modo de competição e eu nem sabia que competia comigo. Eu custei muito para entender que uma amizade pode ser vivenciada como um campo minado de agressividades veladas, julgamentos e comparações; um território de disputa de poder e manipulação. É… “estes são dias desleais” (3)
E isso ainda me tira o sono. “Digam o que disserem, o mal do século é a solidão. Cada um imerso na própria arrogância, esperando por um pouco de afeição” (4). Não sei como ainda me surpreendo com a capacidade humana e, mais uma vez, lamento porque “tem gente que está do mesmo lado que você, mas, deveria estar do lado de lá” (1).
Certa vez, dei uma carona a um colega de trabalho com o qual dividia a sala e o gosto pelo Thrash Metal e o Hard Core. Ao ligar o carro, deixei o som continuar de onde parou: “Sou um animal sentimental, me apego facilmente ao que desperta o meu desejo…” (1) Ambos cantamos a primeira estrofe e, rindo, ele falou: “Nunca imaginei que você gostasse de Legião, mas, prestando atenção, seu olhar tem um tipo de profundidade, de questionamento existencial…”
Ri e me perguntei se existe alguém sem algum questionamento existencial. Custo muito a acreditar que alguém consiga viver sem, vez ou outra, refletir sobre a vida, sua missão e propósito de vida… “Às vezes parecia que de tanto acreditar em tudo que achávamos tão certo, teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais… Às vezes parecia que era só improvisar…” (5)
E o melhor de refletir sobre a vida, é, nas horas mais escuras, saber que já superou coisa bem pior. E entoar “Mas é claro que o sol vai voltar amanhã. Espera que o sol já vem” (...) Se você quiser alguém em quem confiar, confie em si mesmo” (6)
1. "Sereníssima", Renato Russo, Marceno Bonfá, Dado Villa-Lobos
2. "A Via Láctea", Renato Russo, Marceno Bonfá, Dado Villa-Lobos
3. "Metal contra as nuvens", Renato Russo, Marceno Bonfá, Dado Villa-Lobos, Eduardo Souto Neto
4. "Esperando por mim", Renato Russo, Marceno Bonfá, Dado Villa-Lobos
5. "Andrea Doria", Renato Russo, Marceno Bonfá, Dado Villa-Lobos
6. "Mais uma vez", Renato Russo, Flávio Venturini