O Erudito Incompreendido
Há alguns anos atrás eu me achava uma pessoa desprovida de inteligência. A frustração me consumia, mas em vez de me entregar a ela, decidi que iria me tornar inteligente. Em uma estante empoeirada, encontrei um velho dicionário Aurélio. Com a determinação de um explorador em busca de tesouros, comecei a buscar cada palavra que julgava culta, como se cada uma delas fosse uma chave para me tornar o extremo oposto do que antes me sentia.
Logo, eu estava me sentindo eloquente, utilizando todas aquelas palavras rebuscadas. Não importava a ordem, as regras ou o significado. Ao encontrar um possível interlocutor, o diálogo logo tornava-se um monólogo interminável, e eu me via fascinado pelo som das minhas próprias palavras. Enquanto eu falava, observava as expressões nas faces dos ouvintes, que iam da incompreensão ao espanto e eu só conseguia interpretar aquilo como se fosse a admiração que o outro tinha pela minha inteligência.
Cheio de mim, como um erudito fora do seu contexto cultural, eu saía em busca de mais uma vítima do meu discurso incompreensível, maquiado do que para mim eram ideias profundamente reflexivas.
Cada conversa se transformava em um palco, onde eu era o protagonista de uma peça que ninguém conseguia compreender. E por ter sido incapaz de perceber o desconforto alheio, um orgulho inexplicável se formava em meu peito.
Mas, à medida que me perdia nessa nova persona, um desconforto também começava nascer em mim e passei a me questionar: de quê adianta ser eloquente se não consigo perceber compreensão naqueles que me ouvem? Ao refletir sobre isso, percebi que, em minha busca por validação intelectual, deixei de lado a essência da comunicação: a conexão genuína com o outro.
E assim, enquanto os rostos ao meu redor se tornavam borrões de confusão, uma nova determinação tomou conta de mim: eu não precisava ser um erudito incompreendido. O verdadeiro poder das palavras não está na complexidade, mas na simplicidade que pode tocar os corações.