A CRUZ, A PONTE E AS ELEIÇÕES
Há várias historinhas interessantes no meio religioso, que têm como objetivo principal levar seus ouvintes ou leitores a refletirem sobre o viver em consonância com os preceitos bíblicos. Uma delas me foi contada em 1982, pelo pastor da 1ª Igreja Batista de Linhares, Eliezer Araújo, quando eu lhe confidenciei que eu era tabagista. Passados 42 anos, na impossibilidade de me recordar de todos os detalhes, passarei a parafraseá-la, à minha moda, a fim de ilustrar os meus pensamentos que se seguirão. Eventuais semelhanças com histórias já conhecidas, são apenas coincidências:
Certa vez um anjo “bateu à porta” de um homem. Ao abri-la, o moço teve os seus olhos cegados por uma luz resplandecente e ficou sem entender nada. Então, ele ouviu uma voz que lhe disse:
- “Eu sou um enviado de nosso Senhor e vim lhe trazer algo muito importante: a cruz que você terá de carregar sobre os seus ombros até o último dia de sua vida aqui na Terra.”
O homem se lembrou de Jesus e pensou: se o filho de Deus sofreu demais carregando a cruz dele até o calvário, será muita sem-vergonhice da minha parte não aceitar essa “encomenda”. Então, ele disse ao anjo:
-“Seja feito em mim conforme o Senhor ordena. Eu recebo com gratidão!”.
No dia seguinte, ao sair para trabalhar, o homem pegou a sua cruz e meia hora depois já estava com os ombros doendo... Olhou para o céu e disse: “Oh, meu Deus, não dava para ter me enviado uma cruz menor, não?”
Lá para as tantas, passou um “engraçadinho”, olhou para o homem da cruz e disse:
-“Eu, hem! Tá doido? Que cruz é essa, cara? Tá pensando que você é Jesus? Isso deve ser pesado para caramba”.
Então o homem respondeu: “Não estou maluco, não. Deus mandou essa cruz para mim por um anjo e eu a aceitei.”
-“ E o emissário disse que a cruz tem de ser pesadona assim?”, perguntou o interlocutor.
- “Não, só falou que eu tenho de levá-la nos ombros até o dia do meu último suspiro”.
-“Então deixa de ser tonto, cara, pega um facão e corta um palmo dessa bagaça.”
O homem relutou, mas no final do dia, com os ombros esfolados, ele achou que se cortasse a medida sugerida, diminuiria a dor.
Mais aliviado e verdadeiramente convencido de que Deus é bom e não quer que ninguém se lasque nessa vida; o homem começou a concordar que o Senhor não se importaria se ele diminuísse o tamanho e o peso da cruz. Assim, passou a usar o seu facão para diminuí-la, toda vez que ele queria se sentir melhor.
Chegou o dia da morte do sujeito e ele viu um monte de gente, em fila, carregando cruzes nos ombros... umas grandonas, outras encurtadas como a dele. Eles todos estavam se dirigindo para a entrada do céu.
Qual não foi a decepção ao descobrir que havia um enorme fosso e dentro dele muitas chamas, antes da porta do paraíso! Percebeu que o acesso a ele só seria possível, se a cruz fosse colocada sobre a enorme vala, servindo de ponte. Obviamente, o homem não foi para o céu e se foi para o inferno o pastor não me contou. Mas eu deduzi e tenho procurado me lembrar da moral implícita.
Lembrei-me dessa historinha após os resultados das últimas eleições no Brasil, não que eu acredite que políticos tenham “cruzes pesadas” demais para carregarem (muitos as têm bem levinhas, até), mas porque para alcançarem as prefeituras é preciso que as “pontes” sejam compatíveis com os tamanhos dos “fossos”.
Ocorre que alguns políticos não chegaram ao sonhado “céu”, exatamente porque ao longo de suas caminhadas foram “cortando suas cruzes” ao abandonarem ou menosprezarem, aqueles que os ajudaram a carregarem suas “cruzes”, oferecendo, muitas vezes, seus próprios ombros.
Após o balanço, percebo que novas lideranças despontaram em todo o Brasil e brevemente terão de carregar aquilo que será suas “pontes” para os próximos pleitos. A eles eu lego a historinha que o pastor Eliezer me contou e a imagem do fosso, da cruz, do céu e do inferno.
Aproveito para dizer ao pessoal que inventa e espalha fake news, aos que se dizem cristãos, mas abandonaram suas próprias “cruzes” e preferem seguir deitados, pesando sobre as “cruzes” que são carregadas pelas pessoas que, verdadeiramente, querem o bem geral; que eu acho que vocês ou vão ficar no limbo ou vão despencar no inferno. E será bem feito!