Alma que Não Cessa
Sempre me intrigou pensar na imortalidade da alma. Este mistério, tão antigo quanto o tempo, flutua sobre nós com a leveza de uma folha ao vento e a profundidade de um oceano que não conhecemos o fundo.
Em algumas noites, ao fechar os olhos, sinto que estamos todos ligados por um fio invisível, como se nossas almas fossem partículas de uma trama maior, que se entrelaça além do que vemos. As lembranças das pessoas que amamos e que já se foram, por exemplo, não morrem em nós, ficam em nossa mente e no coração, sustentando suas presenças como uma chama contínua, sem que o tempo consiga apagá-las.
Esses encontros e reencontros que experimentamos ao longo da vida parecem indicar que a alma não termina; ela se renova, segue adiante. Um olhar de compreensão, o sorriso de um estranho, o conforto de um abraço que chega na hora certa — são pequenas evidências de que a vida espiritual é cíclica, de que há um plano maior, onde cada encontro tem um propósito e cada despedida é apenas uma pausa.
Penso que a alma carrega em si a sabedoria de várias eras, acumulando amor, aprendizado, resiliência. Ela não desaparece; apenas repousa quando o corpo se vai, pronta para seguir seu caminho de evolução. Talvez, ao final, não seja a linha de chegada o que importa, mas a jornada em si. É esse caminho — feito de passos, quedas e, principalmente, de encontros — que molda nossa alma, tornando-a cada vez mais leve e completa.
A imortalidade, afinal, pode não ser uma questão de tempo ou espaço, mas de essência. A alma, ao percorrer sua estrada infinita, acumula a sabedoria dos que a antecederam, como um rio que jamais seca, fluindo sempre em direção ao mar. Ela é um lembrete de que tudo que vivemos, cada amor, dor e alegria, ecoa pela eternidade. E isso nos dá a certeza de que somos, todos nós, partículas de um infinito que nunca cessa.
Helena Bernardes
02 nov 2024