A Insônia e o Poeta
O poeta tem uma relação antiga com a insônia. Para ele, as madrugadas são portais, aquele espaço quase sagrado onde o silêncio se faz mais profundo e a mente, mais desperta. Enquanto o mundo dorme, ele vagueia por pensamentos soltos, versos que brotam como pequenas faíscas na escuridão. É ali, entre o cansaço e a lucidez, que as palavras começam a tomar forma.
A insônia chega sem pedir licença, mas o poeta já está preparado. Ele abraça a quietude da noite, pega papel e caneta e começa a desenhar o que lhe vem à cabeça: sentimentos que estavam escondidos, lembranças que só a madrugada consegue trazer à tona. Ele não precisa de muito — uma xícara de café morno, uma luz baixa. É quase um ritual.
O tempo passa sem pressa, e o poeta escreve como quem conversa consigo mesmo, solitário e atento. De vez em quando, ele para, observa o céu pela janela e se deixa perder entre as estrelas, como se nelas encontrasse os pontos que ligam suas próprias inquietudes. Há um universo de palavras que só se revela na quietude da noite, e o poeta, fiel a essa rotina silenciosa, sabe que a insônia, no fundo, é sua melhor companhia.
E assim, o poeta transforma a falta de sono em versos, encontra nas horas vazias o cenário perfeito para criar. Quando o sol começa a despontar, ele guarda seus escritos, certo de que, na próxima insônia, voltará a se aventurar por esses caminhos. Porque, para ele, as madrugadas são o palco perfeito para seus versos.
Helena Bernardes
out,2024