O rei sob o cajueiro

Toda tarde, eu me abrigava na sombra, debaixo do velho cajueiro. Com um frágil graveto, rabiscava frases soltas na areia fina que circundava seu tronco. As palavras nasciam e morriam ali, sob meus pés descalços, como uma dança efêmera entre criação e esquecimento. Eu era rei de um reino sem sentido, senhor de frases que o vento logo apagaria.

Mas toda realeza tem seu preço. Assim como as palavras se desfaziam, também meus pés, outrora livres, traziam de volta algo que se recusava a partir. No lugar do graveto apagador, um pontinho preto se instalava. O 'bichinho de pé' encontrava morada, lembrando-me que até a liberdade de um rei tem suas pegadas a carregar.

José Freire Pontes
Enviado por José Freire Pontes em 26/10/2024
Código do texto: T8182588
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