AO PERDEDOR, A ELEGÂNCIA
AO PERDEDOR, A ELEGÂNCIA
Julio Arthur Marques Nepomuceno (*)
Passadas as eleições para prefeito, vice e preenchimento das vagas das Câmaras Municipais, ainda vemos alguns reflexos do pleito. Especificamente, quero dizer alguma coisa hoje sobre aqueles candidatos que não conseguiram a reeleição.
Creio que para eles a situação é mais delicada do que para aqueles que tendo disputado a vaga pela primeira vez, ou mesmo tendo disputado anteriormente sem sucesso, não chegaram a ocupar um lugar na edilidade. Não quero generalizar, mas pelo menos é o que observo na política há décadas.
Em 1982, o Dr. Fernando Cintra, vereador à Câmara Municipal de Amparo durante 19 anos, não conseguiu a reeleição por míseros sete votos. Dr. Fernando foi um dos vereadores mais competentes a ocupar uma cadeira na edilidade amparense. Na sessão seguinte à eleição, declarou, mais ou menos textualmente: “O povo quis assim. Agradeço aos eleitores que confiaram em mim por quatro legislaturas. Agora, vou continuar servindo a cidade de outra maneira...” E assim fez. Homem de classe, deixou a Câmara com a mesma altivez de quem havia chegado dezenove anos antes, ainda jovem, para exercer o primeiro mandato. Representa o perdedor altivo, elegante, que perde mas não é derrotado.
Mas nem todos tem a mesma elegância. Existem alguns tipos que merecem ser analisados. Estão presentes em praticamente todos os municípios, onde as mágoas são extrapoladas e muitas vezes descontadas no próprio eleitor.
Existe, por exemplo, o derrotado que se torna escoiceador. Sim, aquele que dá coices, trata os outros com dureza, desprezo ou violência verbal. Às vezes, física.. Revolta-se contra o povo e escolhe algumas categorias em específico para verbalizar sua revolta pela derrota. Em outros momentos, quando eleito, seu comportamento foi dócil, com agradecimentos no jornal e nas redes sociais pela votação recebida. Mas agora todos são inimigos. Zurra sua revolta, levantando impropérios contra tudo e contra todos. Não percebe o ridículo de seu comportamento.
Mas existe também o derrotado omisso. Recolhe-se ao silêncio, escolhe terceiros para dar suas cutucadas, julga-se traído pela categoria que representa, quando não raro é ele próprio o traidor. Avaliado pelo povo e pela sua categoria, foi rejeitado. Mas não se conforma, julgando que foi vítima, que foi injustiçado... Afoga suas mágoas não em palavras, mas na omissão na parte final do mandato.
Outro tipo muito comum é o derrotado “injustiçado”. É o candidato que quando no cargo, fez favores, mexeu nas filas da saúde, conseguiu favores, “verbinhas” e coisas do tipo. Ele se esquece de que tudo o que fez foi com o dinheiro do povo. Que as verbas são, nada mais, nada menos, do que o dinheiro do contribuinte. Que não fez favor, tão somente cumpriu seu dever. Pois bem: se não está contente, que volte para casa, para seus afazeres, para sua vida. O povo é soberano é escolhe quem quer. Quem entra no jogo, sabe que há duas hipóteses: ganhar ou perder. Ou de uma maneira mais popular, quem sai na chuva é para se molhar.
Essas atitudes são condizentes com a dor da perda, ou como querem alguns, as dores do luto. Mas a vida continua, e muitas vezes essas reações amenizam, o candidato derrotado cai na realidade, e acaba sentindo vergonha. Por isso, é melhor pensar antes de falar bobagens... A vida continua, e como dizia o Dr. Fernando Cintra, sempre é possível trabalhar pela cidade de outra forma...
Para Machado de Assis, “Ao vencedor as batatas”. E eu completo: “Ao perdedor, a elegância”.
(*) Julio Arthur Marques Nepomuceno sou eu