O Destino Que não é mais nosso
Com o tempo, o corpo muda, as rugas marcam a pele e, sem perceber, a sociedade começa a desenhar uma linha invisível entre o que você foi e o que acha que pode ser. Não que seja uma surpresa; a idade sempre esteve lá, caminhando ao seu lado, desde o início. Mas, de repente, quando menos se espera, parece que ela te atropela, sem aviso.
É um momento curioso. Antes, você decidia para onde ir, quando e como. Havia sonhos, planos, escolhas. Agora, tudo parece um pouco mais… distante. Como se, aos olhos dos outros, você tivesse se tornado uma sombra do que já foi. E então, começa a ser puxado, de um lado para o outro, como um cachorro sem coleira, mas não por falta de dono – pelo excesso deles.
Um filho diz que você deve ir morar com ele. Outro sugere uma casa de repouso. A neta tenta te convencer de que seria mais feliz no interior, longe do caos da cidade. A cada sugestão, você se sente menor, menos ouvido. Como se a sua opinião tivesse ficado no passado, junto com o vigor dos seus anos mais jovens.
Mas a verdade é que dentro de você ainda mora aquele que decidiu tantas coisas, que viveu intensamente, que conquistou o que quis. A diferença é que, agora, parece que o mundo ao seu redor não quer ouvir essa voz. Eles dizem que é cuidado, preocupação. Mas, na prática, é uma forma sutil de te colocar em uma posição que você não pediu.
É um choque perceber que, no fim, a autonomia que você sempre valorizou vai escorrendo pelos dedos, enquanto o mundo decide por você. E, em algum momento, o peso da impotência te invade, como um cachorro morto no meio da rua, inerte. O que resta é aceitar ou lutar – mesmo que a luta seja silenciosa, dentro de si, resistindo em ser quem você sempre foi.
O tempo pode mudar o corpo, a vida pode tentar te colocar no papel de espectador, mas a alma – ah, essa continua viva, gritando, mesmo que ninguém mais queira ouvir.