DIÁRIO DE UM PROFESSOR
“Professor, o senhor por aqui”? Quem nunca disse ou ouviu essa frase, que atire a primeira pedra. Geralmente acompanhada de uma cara de espanto, as palavrinhas mágicas tendem a questionar a figura do professor quando encontrado em um lugar diferente daquele que se costumava ver: na escola.
Acho que a gente sempre associa os professores à escola, né? Mas, na verdade, eles são pessoas normais, que gostam de fazer coisas como todo mundo. São seres humanos que nascem, crescem, se reproduzem e morrem. São heróis que lutam pela educação. Mas assim como o Batman, há momentos que penduram sua capa e tentam viver em sociedade discretamente.
Em meus tempos de formação estudantil, sempre tive um olhar aprofundado em relação à figura do professor. Eu enxergava (e ainda enxergo) duas pessoas ali na minha frente: o (a) professor (a) e a pessoa. Sim, muitos esquecem que o professor também é uma pessoa, com suas próprias histórias, hobbies e vontades. É como se a gente só visse a “persona” do professor, o “personagem” que ele assume na sala de aula. Mas, por trás daquela figura que resolve as equações, corrige as redações e faz a gente refletir, existe um ser humano com sonhos, medos, paixões e defeitos.
O rótulo de “perfeição” é um fardo pesado que carregam constantemente, sem direito a legítima defesa. A sala de aula, palco de um drama silencioso, se tornava um campo de batalha. Aquele cheiro de giz, que antes evocava a promessa de conhecimento, agora se misturava ao odor rebelde da juventude em ebulição. Os alunos, como ondas revoltas, se agitavam em suas cadeiras, a cada palavra do professor, um novo desafio. A voz, antes firme, agora se estilhaçava em sussurros, a garganta seca em competição para que pudesse ser ouvido.
O professor, figura de autoridade, se tornava um fantasma, um espectro a ser ignorado. Seus olhos, antes brilhantes de esperança, agora se apagavam, ofuscados pela desordem. A dor, como um fio invisível, o prendia à cadeira, um peso que o impedia de se levantar e fugir daquele caos.
Eram os pais, esses espectros de um narcisismo exacerbado, que o assombravam. Cobravam resultados, esperavam milagres, sem jamais se colocar no lugar do professor, sem jamais compreender a fragilidade da alma que se dedicava à tarefa de moldar mentes jovens.
Mas, e se a gente mudasse a perspectiva? E se a sala de aula deixasse de ser um palco de batalha e se transformasse em um espaço de diálogo, de construção conjunta do conhecimento? E se, em vez de esperar que o professor seja um “super-herói” que resolva todos os problemas, a gente reconhecesse a importância da sua voz, da sua experiência, da sua paixão pela educação?
Paulo Freire nos ensina que a educação é um processo de libertação, de conscientização, de transformação. É um processo que exige diálogo, respeito, e, acima de tudo, a crença no potencial de cada ser humano.
O professor, nesse contexto, não é um mero transmissor de conhecimento, mas um mediador, um facilitador, um companheiro de jornada. Ele não impõe verdades prontas, mas incentiva a reflexão crítica, o questionamento, a busca por novos conhecimentos.
Ele não é um “fantasma” a ser ignorado, mas um ser humano com sonhos, medos e desejos, que, assim como nós, busca construir um mundo melhor.
A gente se irrita? Sim! Mas o sorriso de satisfação do educando, aquele brilho nos olhos que surge quando a lâmpada da compreensão se acende, é a recompensa que faz valer a pena. É a certeza de que a semente do conhecimento foi plantada e, com cuidado e dedicação, poderá florescer.
E, por falar em florescer, o meme da professora idosa cercada por seus ex-alunos, profissionais de áreas diversas, nos mostra a força do impacto que um bom professor pode ter na vida de seus alunos. A frase “ELA FOI MINHA PROFESSORA!!” escrita em cada um deles, demonstra o reconhecimento da importância daquela figura que os guiou em seus caminhos.
Que tal, então, olharmos para o professor com outros olhos? Que tal reconhecermos a sua importância, a sua humanidade, a sua luta por uma educação mais justa e libertadora?
É hora de romper com a desumanização, de construir um novo diálogo, de reconhecer o professor como um parceiro fundamental na construção de um futuro mais belo e esperançoso.