*História de Uma Abençoada História*
#Memorial Recantista# [40] Dionísio Teles#
No momento, encontrava-me “zapeando” o meu PC. Buscava – sei lá o quê? – alguma coisa que de meu interesse pudesse ser. Encontro aleatoriamente um site (@historiadeterapia) no qual as histórias incríveis são narradas. Lendo, me atrevi a contar-lhes uma – dentre as muitas – histórias abençoadas que me aconteceram. Ei-la: À época, eu era Sargento da PMMG. O Brasil de antanho vivia sob a tutela de um Regime Militar. Na quarta-feira, fui até o Comando da Cia. para inteirar-me da Escala de Serviços, para aquela Semana Santa. Alegre, descobri que não estaria de serviço, portanto – livre, leve e solto – poderia viajar ao término do expediente da quarta-feira para passar o “feriadão” na minha adorável cidade de Teófilo Otoni, de onde só retornaria na noite de domingo, para a cruel labuta da segunda-feira!
Por estarmos sob um Regime Militar vigente, o Batalhão só dispensaria a tropa após uma autorização do Chefe das Forças Armadas do Exército. Isso era comum. Então, e assim pensando, solicitei que um Soldado fosse até a Estação Rodoviária de Governador Valadares, comprar a passagem para a minha boa terra, no horário das 18h.
O relógio marcou 17h. O expediente chega ao fim. Tinha, portanto, 01h para chegar à Rodoviária, pegar o ônibus e seguir viagem. A mala estava pronta. Era só chegar, pegá-la e seguir em frente! Assim pensava. Ledo engano – constato! A liberação do Batalhão estava atrasada. Ainda tenho muito tempo – pensei! Ledo engano. O tempo foi se escasseando, a liberação não chegava. O medo de perder o embarque crescia assustadoramente.
Enfim, a liberação chega! Ávido, saio do BTL “voando rasteiro” em busca de um táxi. Encontro-o! Passo o meu endereço, pedindo ao motorista que voasse rasteiro devido ao meu atraso para o embarque. Faltavam 05 minutos para o embarque. Chego à casa onde morava e saio correndo do carro, enquanto ordenava ao motorista:
-Deixe o carro ligado e me aguarde. Vamos à rodoviária! – dissera-lhe! Num átimo de segundo, pego a mala e saio voando a mil por hora. O táxi voava, mas para a minha pressa, andava como uma anciã tartaruga. Chegamos à Rodoviária. Corro para o pátio de embarque. Tristemente, constato: o ônibus já havia partido. Olho para o relógio e verifico que cheguei atrasado por três minutos. Vou atrás deste ônibus.
Assim pensando, embarquei em outro táxi e saí em busca do ônibus fujão – não o encontrei dentro do itinerário urbano. Não satisfeito, ordenei ao taxista que fossemos até a rodovia na tentativa de alcançarmos o fujão. Rodamos pela rodovia sem, todavia, encontrarmos o ônibus.
Retorno à Pensão onde morava. Então – e dando vazão à idiotice crônica que de mim se apossara – chuto a porta do meu quarto, jogo a mala em um canto qualquer e bufando, para exaurir a minha ira, fico com o olhar preso ao infinito. A raiva era a minha companheira. A dona da pensão chega até a porta do meu quarto e, preocupada, pergunta-me:
-O que houve, meu filho, para você ficar tão irado? – solícita perscruta-me!
-Nada não! – com aspereza respondo-a como se ela fosse a culpada!
-Como não é nada se você está, assim, tão nervoso! – ela insiste!
Agora, e mais calmo, narro o acontecimento e o motivo da minha tola ira!
Ela, ouvindo atenta o meu relato, sabiamente me diz:
-Meu filho, Deus sabe o que faz! Talvez nem era para você embarcar nesse ônibus. Acalme-se! Tome um banho, se refresque e venha para o jantar. A comida está a sua espera. – dissera-me trazendo na face a meiguice que lhe era peculiar e o conforto que as suas sábias palavras trouxeram-me!
-Muito obrigado! Após o jantar, irei até a rodoviária para pegar um novo ônibus para seguir viagem. – dissera-lhe em agradecimento pelo carinho.
Agora, e já de banho tomado, assento-me à mesa para a refeição. Em dado momento, ouço através do rádio, uma sirene. Era o sinal de que algo incomum havia acontecido. A sirene – devo dizer – era emitida pela Rádio Educadora da cidade de Governador Valadares anunciando uma reportagem extra. E esta extra reportagem anunciava:
-“Senhora e senhores, o ônibus que acabou de sair de Valadares com destino à cidade de Teófilo Otoni, chocou-se violentamente com um caminhão tanque. Da colisão, nada restou! Todos os passageiros e os motoristas do caminhão e ônibus ficaram carbonizados – informa a PRF.
O alimento que antes degustava, não conseguia descer pela garganta. Os meus olhos estavam banhados em lágrimas. Sinto um braço me aconchegando num abraço maternal da Dona Mariquinha, a dona da pensão. Choramos juntos e juntos, de joelhos, agradecemos ao meu Deus pela retirada do meu corpo de dentro daquele fatídico ônibus incendiado!
Na manhã do dia seguinte, lá estou dentro de um ônibus que me levaria a minha terra natal. Ao passarmos pelo fatídico local do acidente, o motorista diminui a velocidade. Ele e os demais passageiros queriam ver o que restara do ônibus acidentado. Ao ver a tétrica cena, não consegui me conter: as lágrimas caíram abundantemente lavando a minha face! Com o lenço, seco as lágrimas, fecho os lacrimejantes olhos e faço uma prece pelos que perderam as suas preciosas vidas naquele trágico acidente e volto os meus agradecimentos a meu Deus!
Às vezes nos iramos – como irei-me – porque tudo aquilo que planejamos não dera certo sem, contudo, imaginarmos que o certo é tudo aquilo que o Nosso Deus Pai preparou para nós – os seus filhos – para todo o decorrer da nossa existência!
Epílogo:
Pai – meu Deus e Senhor – quero continuar prostrado aos Vossos pés em eternos agradecimentos por, hoje, estar podendo contar, nesta narrativa, o quanto Vós me tem socorrido ao se fazer presente em todos os momentos desta minha vida!
Aos meus diletos Confrades e Confreiras, deste nosso Sodalício Recantista, quero dizer-lhes que estou trabalhando na edição de um livro, cujo título é Os Dois Pacientes. Explico o título: o Segundo paciente é o autor do autorretrato e Deus é o primeiro ‘paciente’ por sempre ter muita paciência para comigo ao dar-me mais uma chance de vida a cada dia que amanhece para proclamar em agradecimento a Ele, por ceder-me a oportunidade de escrever uma ‘História de uma Abençoada História’, dentre as muitas histórias desta minha vida!
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Imagem: Google